O director criativo Nicolas Ghesquière acaba de renovar por mais cinco anos o contrato com a Louis Vuitton, informou a casa de luxo em comunicado, nesta terça-feira. O francês está no leme da marca-mãe da LVMH desde 2013 e ficará, pelo menos, até 2028, tornando-se um caso raro de estabilidade num meio pautado por constantes surpresas nas contratações.
“Estou muito feliz e também honrado com esta confiança. Claro que é muito gratificante ver as conquistas destes dez anos serem transformadas num novo capítulo”, celebra o criador, que confirmou a extensão do contrato à Women’s Wear Daily. Antes da Vuitton, onde substituiu Marc Jacobs, tinha estado também 15 anos na Balenciaga.
Pietro Beccari, director executivo da etiqueta, não se inibe de tecer largos elogios ao designer, a que atribui a “redefinição do universo feminino da Louis Vuitton”, com uma “silhueta” marcada no pronto-a-vestir, bem como vários modelos “icónicos” nas peças em pele e nos sapatos, apresentados nos desfiles com “localizações estonteantes” — por exemplo, este ano, a colecção pré-Outono foi apresentada na Coreia do Sul. “Estou muito entusiasmado para continuarmos juntos a construir o futuro da Louis Vuitton.”
Ghesquière trouxe uma nova versão da marca, mantendo a identidade visual por que é conhecida, mas sem se deixar descansar na repetição dos arquivos e do icónico monograma. Nos últimos dez anos, as colecções ganharam referências no desporto e na cultura pop, com silhuetas a evocar os anos 1970 e 1980. “Elementos desportivos, claro, têm sido das minhas inspirações favoritas, combinados com o classicismo francês”, assinalava o criador, em Julho deste ano, em declarações enviadas a imprensa seleccionada, incluindo o PÚBLICO.
Nos materiais, o criador também trouxe novidades, além da clássica pele das malas Louis Vuitton. “Alguns dos meus exercícios favoritos incluem levar as técnicas ao limite e transformar materiais”, observava. É comum ver malhas modificadas, vinis, efeitos com tweed, pêlos falsos e bordados com padrões florais — sem esquecer o reconhecível xadrez da casa, criado ainda no século XIX.
Também como consequência da visão de Ghesquière, a marca tem quebrado recordes e, no ano passado, registou 20 mil milhões de vendas anuais — o dobro do que facturava em 2018 e quase um quarto dos 79 mil milhões de facturação da LVMH, o conglomerado de luxo de Bernard Arnault, dono de outras etiquetas como a Dior ou a Loewe.
Este ano, a marca tem-se destacado dentro do conglomerado, sobretudo depois de ter sido apresentada a primeira colecção do director criativo de moda masculina, Pharrell Williams, que substituiu Virgil Abloh (1980-2021). Foi uma escolha que tem vindo a ser contestada pelos especialistas em moda, lamentando que a eleição de um director criativo não dependa apenas do talento, mas também do mediatismo das personalidades.
“Isto já não tem a ver com a criação, tem meramente a ver com a ciência do marketing. Não tem nada a ver com a moda”, criticava o historiador de moda Paulo Morais-Alexandre, a propósito da saída de Alessandro Michele da Gucci. É esse um dos motivos por que Nicolas Ghesquière se vai tornando uma raridade na indústria — à parte do caso raro de Ian Griffiths na Max Mara desde 1987 ou Karl Lagerfeld que esteve mais de 30 anos na Chanel.
Fundada em 1854, pelo jovem Louis Vuitton, a casa era inicialmente especializada em caixas e bagagens. Foi ali que se revolucionaram as fechaduras das malas de viagem, com um engenhoso sistema que permitia maior segurança. O icónico monograma nasceu em 1896, pelas mãos de Georges Vuitton, numa homenagem ao pai.