Oposição une-se para considerar demissão de Galamba “tardia”

Para os liberais, é “surreal” que, no comunicado, Galamba diga que ainda tinha condições para se manter no cargo. Pedido de demissão “devia ter tido eficácia logo da primeira vez”, considera BE.

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João Galamba apresentou esta segunda-feira a sua demissão LUSA/RODRIGO ANTUNES
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É unânime: os partidos da oposição consideram que a demissão de João Galamba, ministro das Infra-Estruturas, chegou tarde. À direita, Miranda Sarmento, líder do grupo parlamentar do PSD, diz que a demissão “peca por tardia” e Bernardo Blanco, deputado liberal, diz que “já não havia condições para continuar há pelo menos seis meses”. À esquerda, o BE concorda — “Galamba já não tinha há muito tempo condições para continuar como ministro” — e o PCP fala num “desfecho que se esperava”.

No entender de Miranda Sarmento, Galamba “já não tinha condições para continuar desde 26 de Abril” e a demissão “peca por tardia". “Não era compreensível como é que se mantinha em funções. Ainda veio ao Parlamento, numa bravata, dizer que não se demitia”, acrescentou. Miranda Sarmento questionou, ainda, por que razão o “primeiro-ministro precisava de falar com o Presidente da República” e “não demitiu Galamba logo na terça-feira”.

Ainda à direita, Bernardo Blanco disse ser “surreal” que, no comunicado, Galamba diga que ainda tinha condições políticas para se manter no cargo, acrescentando que considerar tal possibilidade demonstra uma “arrogância” e um “desejo de poder” que não crê serem “saudáveis”. “Já não havia condições para continuar há pelo menos seis meses”, acrescentou.

Também para André Ventura, líder do Chega, a demissão de Galamba “já devia ter acontecido há muito tempo”. A seu ver, o timing ​escolhido por João Galamba para anunciar a demissão deve-se à decisão de os arguidos da Operação Influencer ficarem em liberdade. “Não há outra explicação para um ministro que disse, na sexta-feira, que não se demitia, que tinha condições políticas, mas que quando acabou o interrogatório dos arguidos, demite-se”, sustentou o deputado.

Em reacção pelo Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, líder do grupo parlamentar, explicou ser a segunda vez que isto — Galamba pedir a demissão — acontece, notando que o pedido “devia ter tido eficácia logo da primeira vez”.

“João Galamba já não tinha há muito tempo condições para continuar como ministro do Governo”, disse. Pressionou, depois, António Costa para, ao contrário de na primeira vez, “aceitar” a decisão. “O primeiro-ministro ainda tem uma decisão a tomar antes do fim do seu mandato”, disse. “Esperemos que à segunda seja de vez e que não seja o martírio do ditado ‘Não há duas sem três’”, terminou. António Costa acabou por aceitar e propor a exoneração ao Presidente da República, que logo aceitou a demissão.

Em reacção pelo PCP, o deputado Bruno Dias notou que João Galamba só continuava em funções porque a sua “função era privatizar a TAP”. “Uma situação que já gerava alertas e preocupações e que agora continua”, disse em declarações no Parlamento. A seu ver, a demissão era “o desfecho que se esperava”.

PAN pede suspensão do presidente da APA e director do ICNF​

Também Inês Sousa Real, porta-voz do PAN, aderiu à ideia de a demissão ser “tardia” e “inevitável”. A seu ver, Galamba já devia “ter-se demitido aquando da trapalhada da TAP e da comissão de inquérito”, uma vez que “não reunia as condições políticas”. “É fundamental combater fenómenos de corrupção e opacidade que todo este processo trouxe ao país”, acrescentou.

Pediu, ainda, a suspensão de funções do presidente da Agência Portuguesa do Ambiente e do director do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. “Há mais do que indícios suficientes” para que os mesmos não continuem em funções, disse. Sousa Real insistiu ainda na importância da “transparência”, notando que os “portugueses estão cansados desta telenovela”.

Notícia actualizada com as várias reacções dos partidos

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