Carneiro admite acordos com a direita mas ainda não uniu os moderados do PS
Grupo de três dezenas de militantes socialistas da ala moderada do partido estiveram reunidos este domingo, em Cantanhede, mas não assumiram uma posição conjunta de apoio a José Luís Carneiro.
José Luís Carneiro, candidato à liderança do PS, defendeu que o partido deve estar aberto à "concertação" com os partidos do centro-direita em matérias como a reforma do sistema político, sistema fiscal e apoio às empresas. Apontado como um candidato mais ao centro, em contraste com Pedro Nuno Santos, o ministro da Administração Interna parece ainda não ter reunido à sua volta a ala moderada do PS. Este domingo, um grupo de socialistas assumidos como moderados não declarou uma posição comum de apoio mas também não avançou com uma terceira candidatura. Essa hipótese parece, para já afastada.
O ministro da Administração Interna, que apresentou ontem a candidatura à liderança do PS, está a posicionar-se como uma figura capaz de vir a dialogar com o PSD, sugerindo até que pode viabilizar um Governo social-democrata. “Não será por mim que o Chega chega ao poder do nosso país”, disse, este domingo em entrevista à TVI, depois de questionado se estaria disponível para viabilizar um Governo do PSD sem maioria.
Ao mesmo tempo, na mesma entrevista, José Luís Carneiro, que foi um destacado apoiante de António José Seguro, aproveitou para atirar a Pedro Nuno Santos ao questionar o pressuposto de uma aliança à esquerda do PS tendo em conta as posições assumidas pelo BE e o PCP sobre a guerra na Ucrânia e o conflito no Médio Oriente.
Numa altura em que se definem os candidatos à disputa eleitoral interna do PS – Pedro Nuno Santos formaliza candidatura esta segunda-feira na sede nacional do partido – um grupo de três dezenas de militantes e dirigentes socialistas conotados com a ala moderada do partido reuniu-se, ao almoço deste domingo, em Cantanhede (Coimbra) numa iniciativa promovida por Álvaro Beleza, que é dirigente do PS e preside à SEDES (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social). O encontro foi noticiado como uma iniciativa da ala da direita do PS, o que levou alguns participantes a desistir, apurou o PÚBLICO.
Nem Francisco Assis, presidente do Conselho Económico e Social, nem Jorge Seguro Sanches, deputado e antigo secretário de Estado compareceram.
Apontado como um fórum de onde poderia sair uma alternativa às duas candidaturas à liderança do PS já anunciadas, o encontro acabou por reflectir a necessidade de o “país e o PS se regenerarem” mas não saiu uma terceira via à próxima disputa interna, segundo o porta-voz do grupo, Alberto Souto de Miranda.
Essa terceira candidatura também foi afastada por António José Seguro, a figura que reunia a ala moderada e de quem foram apoiantes Francisco Assis, Álvaro Beleza, Seguro Sanches e a maioria dos participantes no almoço de Cantanhede. O ex-secretário-geral do PS admitiu que, “neste turbilhão”, o seu “telefone tenha tocado e tenha recebido mensagens mais vezes”, mas escusou-se a fazer comentários adicionais e acrescentou apenas que a sua única "preocupação é o país".
Segundo Alberto Souto de Miranda, ex-secretário de Estado das Infra-estruturas (de Pedro Nuno Santos) e antigo presidente da câmara de Aveiro, entre os participantes houve quem assumisse que “ia votar” em José Luís Carneiro, outros apontaram preferência para Pedro Nuno Santos e outros ainda “estão a amadurecer” a decisão.
A ala moderada do PS espera para ver qual o desfecho das eleições internas do partido, marcadas para 15 e 16 de Dezembro. “Há vontade de que este movimento se mantenha para ser mais consequente”, disse ao PÚBLICO Alberto Souto de Miranda, apontando Álvaro Beleza como o protagonista do grupo. “Tem dado a voz a essa atitude [dialogante], de que é preciso fazer pontes, conversar com os adversários políticos sem tribalismos”, acrescentou.
Álvaro Beleza remeteu as conclusões do encontro para Souto de Miranda, mas à chegada ao local, em declarações aos jornalistas, defendeu que “chegou o tempo dos moderados” e que “Portugal precisa de um PS moderado, responsável e patriota, e precisa de um PSD, que é outro partido fundador da nossa democracia, também moderado e reformista”.
A sugestão de José Luís Carneiro de, caso seja eleito líder do PS, poder viabilizar um eventual governo PSD para evitar que o Chega alcance o poder não foi abordada no encontro, segundo Souto de Miranda, defendendo, no entanto, a necessidade de “haver acordos entre o PS e o PSD” em matérias em que há “consenso”. “Por isso, a nossa aversão a radicalismos”, reforçou.
Este fórum de militantes do PS “tem mais” simpatizantes do que os 30 participantes deste encontro deste domingo, segundo Souto de Miranda, que acredita que este grupo ainda terá espaço para crescer, porque há “muitos militantes preocupados com a degradação da democracia.”