Gulbenkian lança prémio internacional de dança no valor de 150 mil euros
O novo Salavisa European Dance Award é dirigido a criadores de todo o mundo com pouca visibilidade nos circuitos internacionais e uma homenagem a Jorge Salavisa, figura de relevo da dança portuguesa.
Com o objectivo de estimular o percurso de “jovens criadores de dança” e homenagear Jorge Salavisa (1939-2020), bailarino e director artístico do Ballet Gulbenkian entre 1977 e 1996, a Fundação Calouste Gulbenkian lança, nesta segunda-feira, a primeira edição do prémio Salavisa European Dance Award (SEDA), no valor de 150 mil euros.
Atribuído de dois em dois anos, o SEDA é dirigido a bailarinos e coreógrafos de qualquer parte do mundo — inclusivamente de fora da Europa, apesar do nome do galardão —, “sem categoria etária estritamente definida” (os 40 anos são a baliza de referência), cujo trabalho tenha pouca visibilidade nos circuitos internacionais de dança “devido ao seu discurso artístico ou à sua origem social e cultural”, lê-se no comunicado oficial.
Não se trata, portanto, de um prémio de carreira, mas de encorajamento a artistas “com qualidades especiais que mereçam extravasar as suas fronteiras” locais ou nacionais, faz notar a instituição.
Nesta iniciativa, associam-se à Gulbenkian seis instituições parceiras europeias que terão um papel activo na nomeação dos artistas: ImPulsTanz, um dos principais festivais internacionais de dança contemporânea na Europa, com base em Viena (Áustria); o teatro KVS, em Bruxelas (Bélgica); o centro de dança Dansehallerne, em Copenhaga (Dinamarca), a dupla Maison de la Danse e Bienal de Dança de Lyon (França), referências de topo do panorama mundial da dança; a Joint Adventures, estrutura de programação, produção e cooperação de Munique (Alemanha); e o histórico teatro Sadler’s Wells, em Londres (Reino Unido).
Cada instituição irá conectar-se com indivíduos ou entidades terceiras a nível global, de modo a alargar o raio de acção e influência do SEDA.
A partir de um lote máximo de 21 candidatos propostos pelas instituições acima referidas — três por cada entidade —, serão nomeados cinco artistas. A lista de finalistas será tornada pública e a escolha final será feita por um júri independente, composto por três membros de diferentes nacionalidades (ainda a definir).
A cerimónia de entrega do SEDA será sempre na Fundação Gulbenkian, em Lisboa. A escolha desta edição inaugural está agendada para 27 de Novembro de 2024. Ao artista laureado caberá conceber uma nova criação, com o montante do prémio, e apresentá-la depois nos palcos das sete instituições europeias envolvidas directamente no projecto.
Com o lançamento do SEDA, a Gulbenkian pretende “dar continuidade à sua missão de promover” a dança em território nacional e internacional. Da intervenção da fundação nesta área destaca-se a criação do Ballet Gulbenkian em 1965, companhia que durante 40 anos foi determinante para o desenvolvimento e a profissionalização da dança em Portugal (a própria fundação decidiu extinguir a companhia em 2005); os Encontros Acarte (1987-2000), festival internacional de artes performativas que acolheu e co-produziu várias obras da chamada “nova dança europeia”, contribuindo para impulsionar e solidificar o tecido coreográfico nacional; e, mais recentemente, a atribuição de bolsas de formação e de apoios à criação e internacionalização.
O Salavisa European Dance Award é anunciado no dia em que Jorge Salavisa faria 84 anos. Nascido a 13 de Novembro de 1939, o bailarino, professor e programador iniciou os estudos com Anna Mascolo, tendo prosseguido a formação e a carreira em Paris e Londres. Regressou a Portugal para dirigir o Ballet Gulbenkian, sem deixar de lado o seu percurso internacional: deu aulas em várias cidades dos Estados Unidos e foi professor fundador do P.A.R.T.S., na Bélgica, uma das escolas de dança mais influentes a nível mundial.
Em Portugal, foi ainda professor na Escola de Dança do Conservatório Nacional, responsável pela programação de dança da Lisboa 94 – Capital Europeia da Cultura e director da Companhia Nacional de Bailado e do São Luiz Teatro Municipal. Em 2011, Marco Martins registou a sua carreira no documentário Jorge Salavisa Keep Going.