Francisco Sassetti estreia Home em quatro concertos duplos com Wim Mertens
Em quatro concertos duplos com Wim Mertens, o pianista Francisco Sassetti apresenta o seu disco de estreia como compositor, Home. O primeiro é dia 13 no Porto, na Casa da Música.
Pianista ligado há anos à música erudita, professor, Francisco Sassetti só este ano gravou um disco a solo, como compositor. Chama-se Home e vai apresentá-lo ao vivo em quatro concertos integrados na programação do Misty Fest, todos eles na mesma noite que o também pianista e compositor belga Wim Mertens, que apresenta Voice of the Living, em homenagem a todas as vítimas da guerra. O primeiro será no Porto, na Casa da Música (dia 13 às 21h), seguindo-se o Casino Estoril (dia 16, às 21h), Leiria, no Teatro José Lúcio da Silva (dia 18, às 21h30) e, por fim, Espinho, no Auditório de Espinho (dia 19, às 21h30).
Irmão mais velho de Bernardo Sassetti (1970-2012), só os dois, entre oito irmãos, seguiram música. Nascido em Lisboa, em 1964, Francisco iniciou uma carreira de concertista em 1998 mas só depois da inesperada e prematura morte do irmão é que, explicou depois, começou “a compor compulsivamente, quase como se quisesse continuar a obra dele, tão tragicamente deixada a meio. Era uma forma de lamento e, também, um espaço de paz e silêncio.”
Ter gravado apenas agora (o disco foi lançado nas plataformas digitais no dia 29 de Setembro deste ano) explica-se por ser um compositor tardio. “Tenho a minha carreira na música clássica, que é onde tenho trabalhado sempre, e há dez anos comecei a compor, um bocadinho no seguimento de estar a fazer arranjar para coros que dirigia. Apesar de já ter feito experiências quando era jovem, mas que nunca foram seguidas.”
Essas experiências deveram-se ao ambiente familiar, acabando Bernardo Sassetti, seis anos mais novo, por seguir os passos de Francisco, que começou no piano mais cedo. “Nós somos de famílias de músicos e os nossos pais tinham muito gosto que nós seguíssemos”, diz Francisco. “Todos aprendemos, mas, não sei porquê, só eu e o Bernardo, o sétimo e oitavo filhos, é que seguimos. Eu ajudava o Bernardo, porque era mais novo, mas ele depois seguiu outra via, através dos meus primos Moreiras [um forte clã no jazz] e também influenciado pelos meus irmãos, que gostavam muito de música brasileira.”
Francisco seguiu desde cedo a música erudita, tornando-se concertista e professor. Porém, não era o único género de música que ouvia na juventude. “Sempre gostei de rock”, diz. “Sou da geração da new wave, apanhei o punk, mas em termos de gosto estou mais ligado ao rock e ao pop dos anos 1980. Depois ligo isso com a clássica e acaba por dar esta mistura um pouco estranha. Claro que adoro música de filmes, e isto vai beber muito também à música para cinema que se tem feito nos últimos anos, Michael Nyman, Yann Tiersen e companhia.”
O álbum abre com a faixa que lhe dá título, Home, e inclui mais onze instrumentais: Music for her, Nocturne I, Filipa’s dream, Sara is happy, Inocência II, Francisco’s Jr theme, Nocturne II, Goodbye, Dawn, Sliding doors e It’s been a long day. Uma lista onde sobressaem alguns nomes, denotando referências familiares: Filipa, Sara, Francisco. “São nomes que me estão próximos: Sara é a minha mulher, o Francisco e a Filipa são os meus filhos. Na realidade, esses dois temas foram escritos já dez anos, quando eles eram miúdos, por isso há algo do imaginário infantil nessas duas músicas. Nos outros temas, há música mais nocturna, outra de ambiente [Dawn] e há uma parte também muito lírica. Mas é tudo ligado às coisas que me são próximas, por isso o nome Home, que é também título de um dos temas que acho mais fortes ao álbum.”
Desde que começaram a ser compostos, há uma década, estes temas foram sendo “testados” em palco: “De vez em quando, ia-os tocando em concertos e comecei a receber feedbacks muito positivos, de pessoas que se emocionavam com esses temas ou gostavam muito deles. Então, fui-os juntando e, já depois de ter feito uma gravação em estúdio, mostrei-a ao António Cunha, ele gostou e fomos para a frente. E fizemos duas gravações: uma em estúdio, com um piano normal, e outra com um piano vertical com filtros, com uma sonoridade muito mais doce. No fundo, há gravações duplas de cada tema, embora o álbum seja só com piano de cauda.”
Os quatro concertos anunciados são também com piano de cauda. Todos em noites partilhadas (em concerto duplo) com Wim Mertens: “É uma coincidência extraordinária, porque o Wim Mertens é um grande ídolo meu dos anos 80. Muita da minha música vai beber também aos ambientes que ele cria. E quando o António Cunha [da Uguru, organizadora do Misty Fest] me convidou para fazer estes concertos, claro que fiquei radiante. Não podia ter sido melhor.”