A solidão pode matar. Estudo encontra risco de morte 39% maior em quem nunca recebe visitas

Nunca receber visitas de amigos ou família aumenta em 39% a probabilidade de morrer, diz estudo no Reino Unido. Percentagem desce significativamente com visitas mensais.

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A falta de interacções sociais está associada à mortalidade, independentemente da causa do óbito Manuel Roberto
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Quem nunca recebe a visita de amigos ou familiares tem um risco de morte 39% superior ao das pessoas que são visitadas pelos entes queridos, sugere um estudo britânico publicado esta sexta-feira, 10 de Novembro. Dos cinco tipos de interacção social investigados por cientistas da Universidade de Glasgow, na Escócia, a frequência com que se recebe visitas foi a que teve um maior impacto na esperança de vida dos voluntários no estudo.

“Os participantes que recebiam visitas de amigos ou familiares pelo menos uma vez por mês tiveram um aumento do risco de mortalidade associado significativamente menor, sugerindo que existia potencialmente um efeito protector desta interacção social”, pode ler-se no resumo do estudo publicado na revista BMC Medicine.

A história por detrás destas conclusões começa há quase 20 anos, quando os investigadores começaram a recrutar centenas de milhares de pessoas para apurar o que estava por detrás da associação (já comprovada noutros estudos científicos) entre a morte, o sentimento de solidão e o facto de se viver efectivamente em isolamento.

Entre 2006 e 2010, mais de 458 mil adultos com uma média de idades de 56,5 anos registaram-se num banco de dados britânico — o Biobanco do Reino Unido, que reúne informações de centenas de milhares de pessoas para estudar o desenvolvimento de doenças na comunidade — e responderam a um questionário sobre as suas interacções sociais.

Foram analisadas cinco — duas consideradas subjectivas e outras três consideradas objectivas. No primeiro grupo estão a frequência com que os participantes podiam confiar em alguém próximo e a frequência com que se sentiam sós. No segundo grupo estavam a frequência com que recebiam visitas de amigos ou familiares, a frequência com que participavam numa actividade de grupo semanal e se viviam sozinhos.

Ao fim de quase 13 anos de acompanhamento, os investigadores foram olhar para os dados das mais de 33 mil pessoas que tinham morrido até então. Descobriram então que a falta de qualquer um desses tipos de interacção social está associada à mortalidade — independentemente da causa do óbito. A frequência das visitas, da participação em actividades de grupo e o facto de se viver sozinho são as que mais pesam — mas os factores subjectivos também prejudicam a esperança de vida.

Curiosamente, o risco de morte entre os indivíduos que nunca receberam a visita de amigos ou familiares (39%) sobe para 50% se essas pessoas participarem em actividades de grupo. É um risco de morte semelhante ao dos participantes que não receberam visitas e não participaram em actividades (49%). Ou seja, “as associações benéficas para alguns tipos de actividades sociais podem não ser sentidas quando outros tipos de conexão social estão ausentes​”.

Não é claro se estas conclusões podem ser transportadas para a realidade portuguesa, nem sequer para toda a população do Reino Unido. “Embora a força global da associação seja provavelmente generalizável, os dados da amostra do Biobanco do Reino Unido não são totalmente representativos da população geral do Reino Unido”, reforçam os cientistas.

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