Crise climática leva Chile a banir turismo num glaciar da Patagónia

Autoridades chilenas proibiram o acesso ao glaciar Exploradores, no parque Laguna San Rafael, alegando questões de segurança devido ao rápido degelo. Aventureiros e guias locais criticam medida.

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Parque Nacional Laguna San Rafael numa expedição em 2022 EPA/Alberto Valdes
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Parque Nacional Laguna San Rafael numa expedição em 2022 EPA/ALBERTO VALDES
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Parque Nacional Laguna San Rafael numa expedição em 2022 EPA/Alberto Valdes
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Parque Nacional Laguna San Rafael numa expedição em 2022 EPA/Alberto Valdes
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Parque Nacional Laguna San Rafael numa expedição em 2022 EPA/Alberto Valdes
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Parque Nacional Laguna San Rafael numa expedição em 2022 EPA/Alberto Valdes
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Parque Nacional Laguna San Rafael numa expedição em 2022 EPA/Alberto Valdes
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O glaciar Exploradores, no Parque Nacional Laguna San Rafael, era até agora um destino popular na Patagónia chilena para caminhadas no gelo. Mas um estudo de duas semanas realizado por hidrologistas do governo terá descoberto que o glaciar está a atingir um “ponto de inflexão” perigosamente instável. Com a crise climática a acelerar o degelo e a instabilidade na zona, a Corporação Florestal Nacional do Chile decidiu proibir permanentemente o acesso dos caminhantes ao glaciar, invocando razões de segurança.

“Existem riscos e incertezas evidentes em relação ao comportamento do glaciar”, lia-se num e-mail enviado pelo departamento florestal que supervisiona os parques nacionais no país, citado pela Associated Press. “As condições não são seguras para actividades de ecoturismo no Glaciar Exploradores.”

O estudo foi realizado após a queda de um pedaço de gelo de grandes dimensões do glaciar principal a 6 de Outubro e sugere que este tipo de fragmentação se tornará mais frequente em breve, lembrando que o Exploradores encolheu 50 centímetros por ano, de acordo com imagens de drone recolhidas pelos investigadores desde 2020, tendo o número de lagoas no topo do glaciar duplicado no mesmo período.

Sem mencionar de forma explícita as alterações climáticas, ainda que o documento frise que o glaciar chileno tinha permanecido relativamente inalterado durante quase um século até começar a sofrer um rápido desbaste nas últimas décadas, este é um fenómeno que se tem verificado um pouco por todo o mundo, uma vez que as emissões de gases com efeito de estufa estão a provocar o aquecimento da atmosfera e dos oceanos.

Em Julho do ano passado, 11 pessoas morreram na sequência da queda de um bloco de gelo do glaciar Marmolada, nos Alpes italianos. No mesmo Verão, o degelo na região provocou várias quedas de rochas, levando algumas agências a cancelar subidas ao Monte Branco pela primeira vez. E na Suíça os glaciares sofreram a segunda pior taxa de derretimento este ano, após perdas recordes em 2022, diminuindo o seu volume total em 10% nos últimos dois anos, de acordo com os responsáveis do organismo nacional de monitorização (Glamos).

No Exploradores, no entanto, o fecho sem aviso prévio do acesso aos caminhantes apanhou desprevenidos os guias locais. Bianca Miranda relata à AP o fardo de ter de reembolsar as agências turísticas que já tinham contratado os serviços da sua empresa até Março de 2024. O parque nacional mantém-se aberto a visitas, assim como os passeios de barco para ver o glaciar, no entanto as expedições estão proibidas. “Para nós, não é apenas um golpe económico mas também emocional”, diz à AP. “Trabalhamos neste local há mais de dez anos e tornou-se a nossa segunda casa.”

Para Will Gad, guia e aventureiro canadiano, a primeira pessoa a escalar as cataratas do Niágara congeladas, este está a tornar-se “um problema real” para os guias mas, apesar de acreditar que “provavelmente há algumas situações” em que o encerramento permanente “se justifica”, lembra que “parte do montanhismo e da escalada passa por tomar as suas próprias decisões”. E riscos. Para Bianca Miranda, trabalhar em turismo de aventura passa por saber que “há sempre um risco associado” e isso sempre fez parte da exploração do Parque Nacional Laguna San Rafael.

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