Algarve e Alentejo podem perder até 5% de turistas com o aumento da temperatura média

Regiões costeiras sofrem maior impacto das alterações climáticas na procura turística, diz estudo da Comissão Europeia. Portugal é o terceiro país que mais turistas perde com subida das temperaturas.

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O Algarve será uma das regiões portuguesas mais afectadas pelo aumento das temperaturas e consequente diminuição no número de turistas Matilde Fieschi
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As temperaturas do Sul da Europa fizeram da região um dos destinos de férias mais populares do Verão, atraindo milhares de turistas ao longo das décadas. Mas os últimos meses têm provado que o paraíso se pode tornar rapidamente num inferno. À medida que as alterações climáticas tornam cenários como aqueles vividos em Odemira, Rodes ou Tenerife mais prováveis, a tendência será fugir para destinos turísticos mais a norte, estima o relatório "Impacto regional das alterações climáticas na procura turística europeia", do Joint Research Centre (JRC), um centro de investigação científica ligado à Comissão Europeia.

Projectando quatro cenários, as metas do Acordo de Paris (1,5ºC e 2ºC) e dois níveis de aquecimento global mais elevados (3ºC e 4ºC), Portugal surge como o terceiro país da União Europeia que perde mais turistas devido ao aumento das temperaturas médias comparativamente aos valores registados em 2019.

De acordo com as estimativas, a procura turística deverá baixar 0,5% caso a temperatura suba 1,5ºC ou 2ºC e até 3,3% no cenário mais pessimista. A liderar a lista surgem o Chipre e a Grécia, com uma diminuição de procura, respectivamente, entre 1,9% e 8,3%, e 0,9% e 7,3%, caso a temperatura suba 1,5ºC ou 4ºC. Espanha surge em quarto lugar, à excepção da estimativa para um cenário com mais 3ºC, em que ultrapassa Portugal por 0,1%.

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O relatório refere que foi encontrada “uma consistente e robusta influência histórica do clima na procura turística em todas as regiões da União Europeia”, através da análise de dados de 2000 a 2019, o que permitiu avançar para projecções futuras sobre o impacto das alterações climáticas no turismo europeu. Se no cenário mais optimista as alterações previstas são moderadas, o modelo mais pessimista projecta “mudanças significativas”, com uma inversão total do mapa.

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“Podemos observar claramente um padrão Norte-Sul”, sublinha o relatório. “Enquanto se prevê que as regiões do Mediterrâneo e do Sul da Europa registem uma queda considerável no volume de turistas (ou seja, no número total de dormidas) devido às alterações climáticas, prevê-se que as regiões em latitudes mais elevadas registem um aumento global na procura turística.”

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O “efeito mais significativo”, acrescenta, deverá acontecer nas “regiões costeiras”, com uma diminuição de 9,1% nas ilhas Jónicas gregas, por exemplo, ou um aumento de 15,93% no Oeste de Gales (Reino Unido). De acordo com o El País, o Alentejo e o Algarve são as regiões que registam as maiores descidas na procura turística em Portugal, entre 0,8% (no cenário de mais 1,5ºC) e mais de 5% (num cenário de uma subida de 4ºC), ao contrário do Norte, com perdas abaixo de 1%.

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Esqueçam Agosto

Ainda que o panorama não seja animador para o Sul da Europa, a procura turística a nível global no continente deverá continuar a crescer, com um aumento de 1,58% no cenário climático mais pessimista. Muda apenas a geografia: os destinos mais populares, ou aqueles que deverão registar maior procura face aos valores de 2019, passam a ser a Irlanda, a Lituânia, o Reino Unido, a Dinamarca, a Suécia e a Finlândia, com ganhos entre 1,2 e 9,1% nos diferentes cenários.

Outra consequência da subida das temperaturas provocada pela crise climática deverá ser a mudança da sazonalidade, “com impactos variados entre regiões”, avança o estudo. “Prevê-se que as regiões costeiras do Norte da Europa registem um aumento significativo na procura durante os meses de Verão e início do Outono, enquanto as regiões costeiras do Sul deverão perder turistas durante o Verão, especialmente nos cenários climáticos mais quentes”, sublinha o relatório.

“Nestas últimas regiões, a queda da procura no Verão é de certa forma compensada, ainda que não totalmente, pelos aumentos registados durante a Primavera, Outono e Inverno.” Esqueça-se Agosto. “O maior aumento da actividade turística em toda a Europa está previsto para o mês de Abril, com um crescimento estimado de 8,89% no cenário de mais 4ºC face à situação actual.”

O relatório, publicado em finais de Julho, é “preliminar” e “sujeito a algumas limitações”, reconhece o grupo de cientistas, que integra dois portugueses, Filipe Batista e Silva e Ricardo Barranco. O estudo servirá agora “de base para diversas extensões e pesquisas de desenvolvimento futuras”, com particular foco nos “impactos e implicações das alterações climáticas no turismo de praia”.

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