Netanyahu diz que Israel poderá ser responsável pela segurança de Gaza após a guerra

Responsabilidades de Israel exercidas “indefinidamente”. Pela primeira vez, o primeiro-ministro israelita deu indicações sobre o futuro político do território palestiniano após o fim da guerra.

Foto
Benjamin Netanyahu deu as primeiras indicações sobre o futuro político de Gaza Reuters/POOL
Ouça este artigo
00:00
03:25

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que as autoridades israelitas estão preparadas para exercer “responsabilidades abrangentes de segurança” sobre a Faixa de Gaza após a guerra contra os islamistas do Hamas. É a primeira vez que o chefe de Governo israelita aborda concretamente uma solução política para o futuro do território.

Numa entrevista concedida na segunda-feira à noite ao canal norte-americano ABC News, Netanyahu disse estar disponível para que sejam realizadas “pequenas pausas tácticas” durante a ofensiva contra o Hamas, em que já morreram mais de dez mil pessoas. No entanto, o primeiro-ministro continua a excluir a hipótese de declarar um cessar-fogo, apesar da grande pressão internacional nesse sentido.

No fim-de-semana, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, esteve reunido com vários dirigentes de países árabes que apelaram a um cessar-fogo com efeitos imediatos. A Casa Branca, porém, mantém o apoio à resposta de Israel ao ataque levado a cabo pelo Hamas há um mês em que morreram 1400 pessoas.

Na entrevista à ABC, Netanyahu foi questionado sobre o futuro de Gaza, após a guerra em que o objectivo israelita é o fim do Hamas, o partido que governa o território palestiniano há 16 anos. “Israel irá, durante um período indefinido, (…) ter responsabilidades abrangentes de segurança [em Gaza], porque já vimos o que acontece quando não temos essa responsabilidade de segurança”, afirmou Netanyahu.

O primeiro-ministro israelita não forneceu mais pormenores sobre o eventual modelo de governação num futuro pós-guerra em Gaza. Mas a indicação de que Israel poderá chamar a si as competências em matéria de segurança constitui o primeiro indício de que as autoridades israelitas pretendem manter algum nível de controlo sobre o território palestiniano. A alusão de Netanyahu a um plano para a fase posterior à guerra surge também num contexto de crescente pressão dos EUA para que Israel tenha em mente uma solução política de futuro para o território.

A declaração de Netanyahu parece contradizer o que foi dito há poucas semanas pelo ministro da Defesa, Yoav Gallant, que referiu "a retirada da responsabilidade de Israel pela vida na Faixa de Gaza".

Gaza é controlada pelo Hamas desde 2006 quando, após a vitória nas eleições palestinianas, estalaram confrontos violentos com a Fatah, o partido que está no poder na Cisjordânia.

A formulação de Netanyahu sobre o modelo político que poderá vigorar em Gaza após a guerra é reminiscente do regime existente em algumas partes da Cisjordânia, em que Israel exerce as responsabilidades na área da segurança, enquanto cabe à Autoridade Palestiniana a gestão nos restantes domínios, como orçamento, saúde, habitação ou gestão de resíduos, por exemplo.

“No entanto”, escreve o editor de Internacional da BBC, Jeremy Bowen, “para fazer isso, é preciso que um organismo palestiniano esteja preparado para trabalhar com os israelitas”.

Essa será, potencialmente, a maior dificuldade quando chegar a altura de se discutir o futuro de Gaza. No domingo, o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, disse que a entidade está preparada para assumir o controlo de Gaza após a derrota do Hamas, mas apenas no quadro de "uma solução política completa que inclua toda a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, e a Faixa de Gaza".

Nos últimos anos, no entanto, a autoridade da Fatah, o partido que domina a Autoridade Palestiniana, tem sido altamente contestada, sobretudo em Gaza, mas também na Cisjordânia, onde é vista como fraca e corrupta. Nesse sentido, será uma tarefa altamente complexa impor à população de Gaza um governo liderado por um partido extremamente impopular, para mais trabalhando em coordenação com o Governo israelita.

Sugerir correcção
Ler 8 comentários