Director de museu nacional húngaro despedido por não cumprir lei anti-LGBTQI+

Em causa estão as obras da premiada fotojornalista filipina Hannah Reyes Morales sobre a comunidade gay de Manila, mostradas na exposição da World Press Photo no Museu Nacional de Budapeste.

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Mostra da fotojornalista Hannah Reyes Morales, Home for the Golden Gays no Museu Nacional de Budapeste Janos Kummer/getty images
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O ministro da Cultura e da Inovação húngaro, Jánon Csák, destituiu nesta segunda-feira o director do Museu Nacional de Budapeste, László L. Simon, argumentando que "não cumpriu as suas obrigações legais” enquanto director da instituição ao não acatar as directrizes do diploma aprovado em 2021 pelo Governo de Viktor Orbán que proibiu a “divulgação ou promoção da sexualidade, da mudança de sexo ou da homossexualidade” a jovens menores de 18 anos.

Em causa está a proibição de acesso de menores à mostra da World Press Photo, que expõe obras da fotojornalista Hannah Reyes Morales, e que o PÚBLICO havia já noticiado. A premiada reportagem que Hannah Reyes Morales fez para o The New York Times retrata o quotidiano dos reformados LGBTQI+, que vivem em comunidade desde os anos 1970 em Manila, nas Filipinas.

A polémica foi desencadeada após a denúncia feita pela política Dóra Dúró, do partido de extrema-direita Nossa Pátria, quando visitou a exposição da World Press Photo: “Vi homens a usar roupas de mulher e sapatos de salto alto, e a pôr batom”. Dúró terá então solicitado a intervenção do Ministério da Cultura e a aplicação da lei que restringe a entrada a menores de 18 anos. László L. Simon publicou um aviso no site do museu bem como à entrada do edifício, tendo posteriormente feito um post irónico no Facebook agradecendo a publicidade que estavam a dar à exposição e mostrando fotografias de filas à porta. Agora, foi demitido. A exposição encerrou a 5 de Novembro, como estava previsto, e atingiu recordes de público depois do conhecimento da censura.

“Aceito a decisão, mas não me posso rever nela”, escreveu posteriormente László L. Simon num comunicado de imprensa que partilhou também no seu Facebook. “O museu não violou deliberadamente qualquer legislação ao apresentar as imagens da exposição World Press Photo. O próprio ministério reconheceu este facto numa carta anterior: ‘Na minha opinião, não existe qualquer circunstância que sugira uma violação intencional da lei por parte do Museu Nacional Húngaro (...)’”, divulga.

Ao contrário da justificação dada pelo Ministério da Cultura, László L. Simon afirma que seguiu “as instruções do patrocinador” e anunciou aos visitantes a restrição da entrada na exposição a menores de 18 anos. No entanto, a equipa do museu não tinha autoridade para solicitar a identificação de identidade à entrada. “Como pai e avô de quatro crianças, recuso-me veementemente a que os nossos filhos sejam protegidos de mim ou da instituição que dirijo”, escreve. Ironicamente, em 2021 László L. Simon, que já foi secretário de Estado e antigo deputado pelo Fidesz, partido ultranacionalista de Orbán, deu voto favorável ao projecto de lei que agora levou à sua demissão e que tem vindo a ser criticado por várias ONG, tendo já valido à Hungria um processo de sanção por parte da Comissão Europeia, como lembra o jornal Le Monde.

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