— Pizza? Ou sushi? O que te apetece? Ainda não tenho pratos. Nem mesa.
— Não sei. Por mim, é o que quiseres. Depois vemos isso.
É um apartamento engraçado. Não podia ser maior. Não podia ser mais pequeno. Localiza-se numa boa zona da cidade. A estação de metro mais próxima é a três minutos. O apartamento também é engraçado porque ainda não está completamente decorado. As casas são como as pessoas, porque também estão sempre em remodelações.
Entramos na sala e antevemos que, da próxima vez que ali estivermos, as paredes estarão preenchidas por quadros e o aparador, que ainda não suporta a televisão, será o sustento de alguns livros mais bonitos do que funcionais. Continuamos em pé.
Reparamos que já existe sofá e elogiamo-lo. Depois, experimentamo-lo. É certo que, num futuro próximo, nos esparramemos nele, sempre que pegar no carro deixe de ser uma opção viável. Vamos jantar aqui muitas vezes, dizem-nos. Sabemos que sim. A conversa iniciara-se no momento em que nos abriram a porta. Estamos só os dois, mas o clima é de festa. Estas são as festas mais felizes. São festas que não o são.
Combinámos jantar os três. (O terceiro amigo ainda não chegou, mas chegará em breve.) Por isso, propomos ao anfitrião um passeio pelo bairro, porque o sol ainda brilha e o dia de hoje tem de ser celebrado com duas cervejas.
Vamos até ao quiosque mais próximo: estamos fora de casa, mas continuamos dentro de casa. É preciso sair da ilha para ver a ilha. Também é preciso sair de casa para ver a casa, especialmente quando essa pertence a um amigo nosso, que está tão contente por ter dado este passo, por ter saído da sua ilha. Agora, arranjou uma segunda ilha e escolheu trazer todos os seus amigos para lá, porque é bom amigo.
De todo que o apartamento está completo. Falta tanta coisa e ainda bem. O objectivo é ir decorando estes espaços com o tempo. Decoramo-los em conjunto e decoramo-nos em simultâneo. Para os apartamentos, compramos mobília. Para nós, arranjamos episódios e histórias de vida.
Neste momento, a sala ainda não tem mesa. Logo, não temos sítio onde comer. Que parvoíce: temos o chão, que está em óptimo estado, e temos as nossas pernas cruzadas.
No caminho de regresso, voltam-nos a perguntar se queremos pizza ou sushi, e percebemos que a escolha é nossa. Pizza, dizemos nós. A pizza nunca falha. Até a má pizza é boa pizza. Além do mais, não queremos dar trabalho ao anfitrião, que já vai ter de nos aturar no futuro, dentro destas quatro paredes ainda incompletas.
Pedimos a pizza, que chega entretanto. Pepperoni. Enquanto levamos mais uma fatia extra picante à boca, apercebemo-nos de que o futuro está à nossa frente e que os amigos estão ao nosso lado. Afinal, de que são feitas as casas? De tijolo, cimento, vigas de aço, chão, tectos, paredes, janelas e portas. E de amigos, claro.