Pela nona vez, Serralves enche-se (quase todo) de performance

Francesco Cavaliere, Jimmy Robert e André Guedes são alguns dos artistas que este fim-de-semana se mostram na nona edição de O Museu como Performance, em Serralves.

Foto
"Descendance du Nu", de Jimmy Robert cortesia museu de SERRALVES
Ouça este artigo
00:00
04:24

O trio de curadores Cristina Grande, Pedro Rocha e Ricardo Nicolau​ –​ este último prefere chamar-lhe “troika” –​​ assume que nunca fez tanto sentido ter referências modernistas como nesta nona edição de O Museu como Performance, a decorrer este fim-de-semana em vários espaços do Museu de Serralves. Ricardo Nicolau explica que estar a trabalhar num espaço que, apesar de inaugurado há quase 25 anos, é uma referência do modernismo” é também uma forma de homenagear o carácter transdisciplinar do Museu de Serralves, reforçando a atenção dada às artes vivas e levando o público a reflectir sobre o conceito de performance –​ no percurso expositivo não está incluída a recentemente inaugurada Ala Siza.

“Quanto temos um núcleo de artistas já escolhidos, começamos a perceber que afinal há uma coerência, há ligações entre os projectos, diz Nicolau sobre as escolhas de artistas para esta edição de O Museu como Performance. Este ano, por exemplo, isso deu-nos uma componente de instalação imensa, de facto, inédita”, acrescenta. O curador salvaguarda, no entanto, que as três instalações –​ ​ A Large Inscription/ A Great Noise, Abyssal Creatures e Descendance du Nu não retiram o propósito desta nona edição, visto que podem ser activadas como performances, não sendo, portanto, algo estático.

Uma das características do Museu como Performance é o facto de trabalhar com encomendas, logo obras inéditas. Canção Nova, do artista André Guedes e do compositor Diogo Alvim, é disso exemplo. A performance cantada de 20 minutos não é a primeira colaboração entre os dois artistas, mas é a mais consistente, visto que a outra foi há mais de uma década, justifica agora Guedes ao PÚBLICO. Canção Nova vem desta ideia de encontrarmos uma canção vocalizando o trabalho de fábrica, da indústria. Tem na origem numa instalação que eu desenvolvi para o Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, em 2017, à volta da fábrica Cimpor, que escolhi pela ligação ao escritor neo-realista Soeiro Pereira Gomes. Nesta obra, pretende-se invocar uma prática que desapareceu: o canto fabril. “Como é que a pessoa se entrega ao trabalho fabril sem o canto?, questiona Alvim. O canto é uma forma de motivar, criar energia para o trabalho e também fraternidade entre os colegas... e é muitas vezes silenciado pelos ruídos da fábrica, remata. A performance musical será de quatro cantores acompanhados de outros tantos performers e decorre este domingo no auditório de Serralves.

Great Noise, de Adam Basanta cortesia museu de SERRALVES
Manual Focus, de Mette Ingvartsen cortesia museu de SERRALVES
Fotogaleria
Great Noise, de Adam Basanta cortesia museu de SERRALVES

Pensar sobre o tempo

Adam Basanta, artista experimental de Telavive, mas sediado no Canadá, traz, por sua vez, a Serralves duas instalações de uma mesma obra e uma performance que partilham um tema comum. “Formas de pensar sobre o tempo e ciclos de construção e destruição”, explica ao PÚBLICO. A Large Inscription mostra um microfone que se movimenta tal e qual um relógio, mas num círculo de gravilha. Com um olhar crítico sobre a era de comunicação em massa, mostra-nos “a perspectiva do tempo contínuo, sem início ou fim”, refere o artista ao pé de blocos de cimento, atarefado com os últimos arranjos da outra instalação da mesma obra, A Great Noise. Esta foi concebida com um conjunto de microfones –​ envolvidos, precisamente, em blocos de cimento –​ que, de forma sisifiana, diz, embatem entre si de dez em dez minutos. “Ambas as peças representam a forma como percepcionamos o tempo, especialmente na política. Um como uma espécie de guilhotina; o outro como quem carrega a estátua de um ditador quando ele morre. E voltamos sempre ao mesmo sítio”, comenta Basanta. Já a performance Small Movements pode ser vista este domingo na Biblioteca de Serralves.

O músico e artista italiano Francesco Cavaliere estreia Abyssal Creatures, esculturas de 1,40 metros feitas de vidro soprado de Murano, côncavas e ocas. A sua concepção, explica Cavaliere, faz com que os sons ecoem dentro delas, como um sistema vascular transparente”. O artista adianta que na sua performance irá pela primeira vez tentar comunicar com as esculturas através da [sua] língua, de sons, do toque”. A performance é este sábado às 15h30 e repete-se no domingo, às 18h, nas Galerias do Museu.

Mette Ingvartsen, Kunrad, Paulina Olowska, Jimmy Robert e Svenja Tiger são os restantes artistas convidados para esta nona edição de O Museu como Performance. A programação completa pode ser consultada no site de Serralves. O bilhete diário custa 13 euros e é descontado 25% do valor mediante a aquisição de bilhete para os dois dias.

Texto editado por Maria Paula Barreiros

Sugerir correcção
Comentar