Economia contraiu-se no terceiro trimestre, PIB abranda para 1,9%

A economia portuguesa abrandou no terceiro trimestre, tendo crescido 1,9% em termos homólogos, um ritmo que compara com os 2,6% nos três meses anteriores. Em cadeia, registou uma contracção de 0,2%.

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Fernando Medina, ministro das Finanças Daniel Rocha
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O Produto Interno Bruto português cresceu 1,9% em termos homólogos, no terceiro trimestre, um valor que compara com os 2,6% do segundo trimestre. Entre trimestres, sofreu uma contracção de 0,2%. As exportações foram a principal causa deste abrandamento, com a economia portuguesa a sofrer já as consequências da apatia económica sentida nos seus principais parceiros económicos de Portugal.

“O contributo positivo da procura externa líquida para a variação homóloga do PIB diminuiu em relação ao verificado no trimestre anterior, em resultado da desaceleração significativa das exportações de bens e serviços em volume, tendo a componente de bens registado uma redução expressiva”, explicou o INE na nota divulgada nesta terça-feira. As maiores economias europeias, em especial a Alemanha, já estão a sentir os efeitos da política monetária do Banco Central Europeu, que tem subido as taxas de juro a um ritmo acelerado para travar a escalada da inflação, através, precisamente, de um arrefecimento económico que acabe por moderar os preços. Um contexto com impacto no comércio externo de Portugal, mas não só.

Isto porque, “as importações de bens e serviços registaram uma redução moderada devido à componente de bens”, uma evolução explicada pelo mesmo cenário económico.

Internamente, o consumo dos portugueses continua marcado pelo contexto de preços ainda altos e perda de poder de compra, tendo a comparação homóloga dado conta de um abrandamento, ainda assim mais do que compensado por uma aceleração do investimento. “A procura interna registou um contributo positivo para a variação homóloga do PIB, superior ao do trimestre anterior, verificando-se uma aceleração do investimento e um abrandamento do consumo privado”, completou.

Em cadeia, esta conjuntura foi ainda agravada por um aparente abrandamento do turismo – que vive um momento histórico em receitas há já alguns trimestres –, resultando mesmo numa contracção do PIB. Face ao trimestre entre Abril e Junho, “o PIB registou uma diminuição de 0,2%, após um crescimento em cadeia de 0,1% no trimestre anterior”, diz o INE. Excluindo o período marcado pela pandemia de covid-19 em 2020 e 2021, este é o primeiro trimestre sem crescimento económico desde meados de 2015.

Nesta perspectiva trimestral, o efeito das exportações é ainda mais evidente. “O contributo da procura externa líquida para a taxa de variação em cadeia do PIB passou a negativo, após ter sido positivo no segundo trimestre, reflectindo a redução das exportações quer de bens, quer de serviços, incluindo o turismo”, explicou o INE.

Ainda assim, o efeito do Verão fez-se sentir entre trimestres, tendo o “contributo da procura interna [passado] de negativo a positivo no terceiro trimestre, observando-se aumentos do consumo privado e do investimento”.

Pessimismo confirmado

Estes números preliminares da economia no terceiro trimestre vêm confirmar a revisão das estimativas apresentada por todas as entidades relevantes nas últimas semanas, incluindo o Governo. No Orçamento do Estado para 2024, o cenário macroeconómico assume um crescimento de 2,2% este ano, que deverá abrandar para uma variação do PIB de 1,5% em 2024. Números que são revisões em baixa face às estimativas anteriores e que estão em linha com o pessimismo de entidades como o Banco de Portugal ou o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Aliás, o supervisor liderado por Mário Centeno já havia sinalizado uma possível contracção no terceiro trimestre como a que veio a verificar-se agora, segundo os dados o INE. Depois da estagnação no segundo trimestre, o BdP antecipou que a economia portuguesa se teria contraído no terceiro trimestre, podendo vir a crescer 0,3% no quarto, números perigosamente próximos de um cenário de recessão técnica (definida como dois trimestres consecutivos de variação negativa do PIB em cadeia).

Já o FMI, no relatório de Outono sobre a economia mundial publicado no início deste mês, estimava que, este ano, a economia portuguesa registasse um crescimento de 2,3%, uma revisão em baixa face à previsão de 2,6% feita pelo Fundo em Abril.

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