Jornais escolares: Escrita Irrequieta e Se Bem Nos Lembramos vencem primeiros prémios
Júri destaca o interesse dos jovens jornalistas “por temas relevantes da actualidade” e por revelarem “opiniões tão claras”.
“Às vezes estou sentada a olhar para o tecto e lembro-me: meu Deus, primeiro lugar.” Ana B. Pereira, de 16 anos, ainda tem de se beliscar para acreditar: Se Bem nos Lembramos, o jornal escolar que coordena na Escola Secundária Vitorino Nemésio, na Praia da Vitória, foi um dos dois grandes vencedores do Concurso Nacional de Jornais Escolares 2022/23, iniciativa do PÚBLICO na Escola. Depois de ter conseguido o segundo lugar na Categoria B — Melhor Jornal de Escola, no ano passado, agora conquista o primeiro e junta-se no pódio ao Escrita Irrequieta, do Agrupamento de Escolas de Branca, Albergaria-a-Velha, o melhor da Categoria A — Melhor Jornal de Agrupamento.
O jornal Escrita Irrequieta, coordenado pela professora Dora Gomes, é um veterano, mas há anos que não ganhava um prémio no concurso. Foi uma surpresa, quando recebeu a boa nova: “Acho que a equipa toda estava longe de imaginar que se conseguisse um prémio este ano. Estávamos num ponto de viragem, tinha-se equacionado deixar de fazer o jornal em papel para fazer só uma versão online”, partilha. Nos segundos lugares das categorias A e B, respectivamente, surgem Comunica — Jornal Digital, do Agrupamento de Escolas de Freixo, e Coisas B(r)oas, da Escola Secundária São Pedro.
Nesta edição do concurso, os vencedores foram escolhidos entre os cerca de cem projectos elegíveis que se candidataram. No total, há quatro prémios principais e seis especiais, que este ano contam com uma estreia: o Prémio 25 de Abril, atribuído pela Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril. “Na análise dos jornais e na atribuição dos prémios tentamos valorizar progressos, esforços, dinâmicas, criatividade e inovação em função dos contextos e das faixas etárias”, diz Luísa Gonçalves, professora e coordenadora do PÚBLICO na Escola e jurada do concurso.
Contar histórias locais e abrir janelas para o mundo
Para quem vive na Terceira, “numa ilha tão pequena”, o jornal escolar pode ser uma forma de ampliar “a perspectiva que se tem sobre o mundo”, confessa Ana B. Pereira. “Eu tenho a certeza que 99% dos jovens que eu conheço têm mais vontade de explorar e saber mais da vida de pessoas que são completamente diferentes delas, do que muitos que vivem nos maiores centros urbanos”. Enquanto coordenadora do Se Bem Nos Lembramos, tenta que o jornal possa ser um portal para outros mundos e que possa contagiar os que escrevem e os que lêem.
Isabel Leite, jurada do concurso em representação da Edulog — Fundação Belmiro de Azevedo, privilegia essa perspectiva na produção de jornais escolares. Um “critério quase sine qua non é ter uma participação muito evidente dos alunos na escolha do que vão fazer, na escrita dos textos, nas diversas dinâmicas em torno do jornal”. Luísa Gonçalves acrescenta: “Perceber que os alunos se interessam por temas relevantes da actualidade, com opiniões tão claras e inquietações tão bem justificadas, é muito gratificante e uma oportunidade que não podemos deixar para segundo plano”.
Nem sempre é fácil produzir um jornal, e as adversidades vão surgindo. Dora Gomes diz que este prémio “vai renovar o espírito do jornal e fazê-lo renascer um bocadinho”. Já Ana B. Pereira conta que a equipa do Se Bem nos Lembramos vai reunir para planear muito bem o que fazer com o prémio — investir na divulgação dentro da escola, num espaço para a redacção e na melhoria das condições de produção estão entre as prioridades.
Olhando ao panorama geral, Isabel Leite reconhece que há uma expectativa de que “tanto alunos como professores que estão envolvidos nos jornais escolares comecem a ter como ambição fazer coisas que reconhecemos que são difíceis”. Como uma boa reportagem, um trabalho de ciência ou de cultura — prémios em que o júri sentiu mais dificuldade em seleccionar vencedores, dado o baixo número de trabalhos elegíveis. Na edição deste ano do concurso, o valor do prémio Reportagem duplicou para mil euros.
Entre os temas mais abordados este ano, Luísa Gonçalves destaca a Saúde Mental, mote do Parlamento de Jovens em 2022-23, que “teve quase um efeito catártico para alunos e professores, dando origem a várias actividades, entre as quais a escrita de textos que revelam que este é um assunto de enorme gravidade e urgência pela forma como está a afectar um número significativo de jovens”.
O júri do Concurso Nacional de Jornais Escolares 2021/22 foi composto por Andreia Sanches (directora-adjunta do PÚBLICO), Helena Soares (designer e professora), Isabel Leite (Edulog-Fundação Belmiro de Azevedo), José Carlos Sousa (Direcção-Geral da Educação), Luísa Gonçalves (coordenadora do PÚBLICO na Escola) e Teresa Calçada (ex-comissária do Plano Nacional de Leitura). Os prémios serão entregues no dia 5 de Dezembro, no auditório da redacção do PÚBLICO em Lisboa.