O impacto da pandemia nas aprendizagens dos alunos

Observa-se que aumentou o número de alunos com resultados negativos, ou seja, os alunos com dificuldades de aprendizagem agravaram-nas ainda mais.

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Os dados apresentados pelo IAVE nos dois estudos (2023 e 2021) permitem uma comparação bastante útil no cruzamento de alunos em diferentes anos de escolaridade Rui Soares/Arquivo
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Se os efeitos da pandemia no sistema educativo, sobretudo nas aprendizagens dos alunos (ensinos básico e secundário), ainda contam, despertando o interesse por estudos que têm sido realizados, a publicação do Estudo Diagnóstico das Aprendizagens 2023, pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), em outubro de 2023, merece uma análise mais atenta, apesar da reflexão que está a ser realizada nas escolas.

Com a passagem do ensino presencial para o ensino a distância, a escola foi reorganizada de um dia para o outro, com o recurso a práticas pedagógicas que não estavam consolidadas e com uma intervenção mais significativa dos pais ou encarregados de educação, evitando — de acordo com o Relatório de Monitoramento Global da Educação, da UNESCO, recentemente divulgado, sobre Tecnologia na Educação: uma ferramenta a serviço de quem? —, o colapso da educação durante o encerramento das escolas em determinados períodos da pandemia.

Faz sentido perguntar, por mais óbvia que pareça a resposta, se a pandemia contribuiu para o recuo das aprendizagens, aumentando o número de alunos sem sucesso ao nível dos resultados académicos.

A amostra do estudo do IAVE de 2023 abrange alunos do 3.º, 6.º e 9.º anos de escolaridade e baseia-se quer nos descritores dos níveis de proficiência previstos para três áreas de literacias (leitura e informação, matemática e científica) que são comuns e transversais aos três anos de escolaridade, quer em variáveis relacionadas com o contexto do processo pedagógico.

Os dados apresentados pelo IAVE nos dois estudos (2023 e 2021) permitem uma comparação bastante útil no cruzamento de alunos em diferentes anos de escolaridade. Tendo em atenção dados de outros estudos e relatórios nacionais e internacionais, seria expetável que os resultados dos alunos do 1.º e 7.º anos, por representarem o início de um ciclo do ensino básico, e que no estudo de 2023 estão nos 3.º e 9.º anos, ficassem aquém dos resultados dos alunos do estudo de 2021, levando à formulação da seguinte questão: existe uma relação direta entre o ano de escolaridade e os resultados dos alunos?

Em termos de resultados globais, os dados do estudo de 2023, comparados com os do estudo de 2021, permitem dizer, por um lado, que as percentagens de alunos que estão no nível positivo mantêm-se mais ou menos estáveis e que, por outro, os resultados de nível negativo sobem nas diferentes literacias.

Com base nestes dados, observa-se que aumentou o número de alunos com resultados negativos, ou seja, os alunos com dificuldades de aprendizagem agravaram-nas ainda mais.

Os dados apresentados permitem extrair tendências de oscilação para cada um dos anos de escolaridade, para as três áreas das literacias e para os três níveis de proficiência, ainda que não sejam muito significativas, havendo situações de clara melhoria, de estabilidade e de manifesta descida dos resultados.

É fundamental dizer que os resultados são apresentados por três níveis de desempenho: nível elevado (respostas com sucesso a 100% da tarefa); nível positivo (respostas com sucesso a dois terços da tarefa); nível negativo (respostas sem sucesso ou com sucesso a apenas um terço da tarefa). Porém, os resultados precisam de ser entendidos como exigentes, já que a linha de corte que separa o positivo do negativo se situa nos 67% e não, como seria o mais adequado, nos 50%.

Numa análise comparativa mais detalhada, e considerando os indicadores por literacias, anos de escolaridade e níveis de proficiência elevado e positivo, a percentagem de sucesso é mais elevada na literacia da leitura e da informação (54,1%) do que na literacia matemática (45,8%) ou na literacia científica (37,5%).

Os anos com melhores resultados são o 3.º, na literacia da leitura e da informação e na literacia matemática, e o 9.º ano, na literacia científica, sendo os mais críticos, nas duas primeiras literacias e na última literacia, 0 9.º e o 6.º, respetivamente, isto é, alunos que em 2021 frequentavam o 7.º e o 4.º ano.

Com efeito, não há dados suficientes para se argumentar que existe uma relação forte entre anos de escolaridade e resultados, havendo, contudo, a certeza de que as dificuldades dos alunos, nas três áreas das literacias, não foram ultrapassadas, donde a necessidade de intervir ao nível dos alunos com mais dificuldades, conferindo-se ainda mais sentido à continuidade do plano de recuperação das aprendizagens.

Sobre os dados de contexto, é salientado, no estudo de 2023, que não só o gosto pela leitura de livros diminuiu, como também o computador foi pouco utilizado de forma sistemática em sala de aula.

Os alunos sentem orgulho em fazer parte da sua escola, sentem-se seguros, afirmam que os professores os tratam com justiça, com base numa relação pedagógica muito positiva. Mais sustentam os alunos do estudo de 2023 que os professores desenvolvem estratégias didáticas e de avaliação, de trabalho em grupo ou em pares, e que há uma maior preocupação em desenvolver trabalho prático e experimental.

Por outro lado, mais de 70% dos familiares de alunos dos 3.º e 6.º anos acompanham as tarefas escolares, diminuindo nos alunos do 9.º ano de escolaridade.

Os resultados de contexto traduzem uma imagem positiva dos alunos face aos professores, à sala de aula, a que não é alheio um maior envolvimento dos pais ou encarregados de educação no acompanhamento das tarefas escolares que os seus educandos têm de realizar.

A escassa utilização do computador na sala de aula é um indicador que não acompanha a transformação digital da educação em curso, tal como a formação que tem sido realizada.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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