Dois mortos nos protestos contra a “fraude” nas eleições moçambicanas

Um homem foi morto com um objecto contundente em Nacala, enquanto um polícia morreu depois de ter sido alegadamente espancado pela polícia. Resultados oficiais das autárquicas gerou manifestações.

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Polícia em Maputo recorreu ao gás lacrimogéneo para tentar fazer dispersar os manifestantes LUISA NHANTUMBO/EPA
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A divulgação dos resultados definitivos das eleições autárquicas de 11 de Outubro dando a vitória ao partido no poder, a Frelimo, em 64 das 65 autárquicas de Moçambique, desatou uma série de protestos da oposição contra aquilo que alegam ser a "fraude" eleitoral promovida pelo partido no poder. Registaram-se confrontos entre a a polícia e manifestantes em várias cidades do país. Em Nampula e Nacala, segundo o Centro de Integridade Pública, há mesmo dois mortos a lamentar.

A polícia recorreu a gás lacrimogéneo, balas de borracha e munições reais para travar os protestos e os manifestantes, muitos deles apoiantes da Renamo, o principal partido da oposição, responderam com pedras, barricadas e destruição de propriedade.

Há muitas detenções e feridos a registar. Em Nampula, uma criança de dez anos foi atingida a tiro quando saía da escola. Outra pessoa foi baleada no bairro de Namicopo, o mais pobre e populoso da cidade, a chamada capital do Norte. Segundo o CIP, um polícia terá sido espancado por manifestantes, tendo acabado por morrer no Hospital Central de Nampula.

A outra morte registou-se em mercado central de Nacala: um homem foi morto por um objecto contundente. Enquanto os manifestantes atiravam pedras, quer para os agentes da polícia, quer contra automóveis e montras de estabelecimentos comerciais, a polícia respondia com disparos de munição real.

Em Maputo, segundo a Lusa, nos protestos convocados pelo candidato da Renamo à presidência da cidade, Venâncio Mondlane, havia ao final da manhã pelo menos um ferido a registar, atingido por uma granada de gás lacrimogéneo disparada pela polícia.

O Canalmoz, a edição digital do Canal de Moçambique, mostrava esta sexta-feira duas notícias em grande destaque e as duas igualmente preocupantes para a estabilidade do país. A primeira afirmava que a STAE (Secretariado Técnico de Administração Eleitoral) “falsificou os editais” e a CNE (Comissão Nacional de Eleições) “proclamou a fraude”. Na segunda dizia que os “ex-guerrilheiros da Renamo ameaçam regressar às matas” devido ao “incumprimento do processo de desarmamento, desmobilização e reintegração”.

Poucos meses depois de se ter concluído o processo dos últimos guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) que travou uma guerra civil com Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), o segundo acordo de paz entre os dois partidos políticos parece estar a abrir brechas e a situação política não ajuda.

Mesmo num país democrático onde o partido no poder goza de grande popularidade se consegue um unanimismo capaz de lhe dar uma vitória tão avassaladora como a que a Frelimo alcançou a 11 de Outubro. Num país como Moçambique, onde as dificuldades são muitas, 64 vitórias em 65 eleições é muito difícil de explicar.

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