A Herdade da Rocha, no Crato, no Alentejo, adquirida no ano passado pela Terras & Terroir, detentora da Quinta da Pacheca, no Douro, vai aumentar a sua oferta de alojamento na zona com a construção de uma unidade hoteleira com 50 quartos, avançou ao PÚBLICO Bernardo Mesquita, director de operações e expansão do grupo. O plano de expansão no Alentejo inclui também uma nova unidade de alojamento na herdade da Ribafreixo Wines, na Vidigueira, ainda sem data definida.
"O enoturismo é uma aposta muito grande [para o grupo]”, contextualiza Bernardo Mesquita, que é responsável por essa área. E a ideia no Alentejo, diz, não é fazer “copy e paste” do que está a ser feito na Quinta da Pacheca desde 2013. E que o gestor classifica de "grande lição": pegar em algo "absolutamente adormecido" e "em dez anos fazer um produto notável do ponto de vista da qualidade, da diversidade de experiências, a chegar a tantos públicos diferentes".
Recorde-se que foi em 2018 que o projecto de enoturismo do grupo, hoje detido por Maria do Céu Gonçalves, Paulo Pereira e Álvaro Lopes, deu o salto, com a ampliação e a instalação de suítes dentro de barris gigantes, no meio da vinha, os Wine Barrels, que já são um cartão-de-visita da histórica quinta duriense.
“Cada região é diferente e tem as suas tradições e queremos aproveitar o que de melhor tem cada uma”, sublinha Bernardo. No entanto, é importante que os negócios tenham capacidade não só para alojar pessoas, como também para a organização de eventos, esse duplo enquadramento faz parte da estratégia da Terras & Terroir, ressalva.
Quando o grupo adquiriu a Herdade da Rocha, no final de 2022, manteve os oito quartos num conceito de boutique lodge que o anterior proprietário tinha construído e manteve-os a funcionar. “Estes oito quartos não são suficientes para rentabilizar o alojamento enquanto força de enoturismo que precisa de ser maior”, justifica Bernardo Mesquita. “Há um projecto que está em desenvolvimento para fazer aumentar o número de camas aqui e, por consequência, de tudo o que está à volta.”
O novo projecto de alojamento ficará perto da tapada cinegética da herdade — onde há veados, coelhos, ovelhas e cabras e que pode ser percorrida através de passadiços — e terá 50 quartos, para atrair um maior número de turistas para uma zona do Alentejo ainda fora dos roteiros.
Situada na encosta da Serra de São Mamede, a propriedade pertenceu a Mário Rocha, fundador da empresa de mobiliário Antarte, que ali plantou a primeira vinha em 2009 (hoje, a herdade tem perto de 9 hectares), lançando a primeira colheita em 2012. Em 2014, construiu uma imponente adega de 2.000 metros quadrados decorada com graffiti e outras obras de arte. Em 2019, foi também notícia por receber a visita do Nobel da Paz Ramos-Horta para inaugurar o Retiro da Paz, um recanto de meditação dentro da propriedade.
Uma das preocupações da Terras & Terroir foi “requalificar o conceito dos vinhos” já existentes na Herdade da Rocha, o que significou “deixar cair algumas marcas”, explica Bernardo Mesquita. Isso aconteceu com os vinhos Couto Saramago. Actualmente, a herdade tem no mercado vinhos brancos, tintos e rosés, feitos com as castas Alvarinho, Arinto, Alicante Bouschet e Syrah.
Segue-se a Vidigueira
Ainda sem data definida, o grupo planeia construir outra unidade de alojamento no Alentejo, na sua mais recente aquisição na região, a Herdade do Moinho Branco, na Vidigueira, onde ficava a Ribafreixo Wines, que Maria do Céu Gonçalves e os sócios compraram em Fevereiro deste ano (negócio que o PÚBLICO noticiou em primeira mão). Dessa herdade, a Terras & Terroir comercializará as marcas Herdade do Moinho Branco, Gáudio, Pato Frio, Barrancôa e Connections.
O projecto da Herdade do Moinho Branco começou em 2007 com 28 parcelas de terreno onde foram plantados 114 hectares de vinha, ligados à Barragem do Alqueva.
A adega, com 4.000 metros quadrados, destaca-se na produção de vinhos brancos, nomeadamente da casta autóctone Antão Vaz e da Chenin Blanc, popular na África do Sul, onde um dos sócios-fundadores da herdade viveu. Tem também um restaurante, com comida alentejana, onde acontecem as provas de vinhos.
Não há ainda data para o início da construção das novas unidades de alojamento, nem o grupo revela os investimentos que as mesmas representam, mas Bernardo Mesquita sublinha haver “alguma urgência” nestes projectos, uma vez que a Terras & Terroir quer, naturalmente, "maximizar a qualidade e a envolvência dos espaços”.
Em breve, o grupo irá inaugurar o seu primeiro hotel cinco estrelas no Douro, na Quinta São José do Barrilário, em Armamar, onde já remodelou o Hotel Folgosa Douro. Está também a remodelar o antigo Hotel Parque, em Lamego, numa concessão de 50 anos que o transformará numa unidade hoteleira de quatro estrelas. No Douro, e como noticiámos há dias, vai também abrir um segundo restaurante na quinta onde tudo começou: a Pacheca abrirá um segundo espaço, para dar resposta ao número crescente de visitantes, e deixará o actual restaurante para o fine dining.