Ex-CEO da Altice pode sair da prisão domiciliária contra caução de dez milhões de euros
Corrupção e branqueamento de capitais estão entre os crimes imputados a Armando Pereira.
Arguido da Operação Picoas, o co-fundador da Altice Armando Pereira vai ser libertado da prisão domiciliária a pedido dos seus advogados e do Ministério Público. Por decisão do Tribunal Central de Instrução Criminal, terá, em contrapartida, de depositar uma caução bancária no valor de dez milhões de euros, destinada a evitar o risco de fuga, noticiou o Observador e confirmou o PÚBLICO junto de um dos seus advogados.
O Ministério Público suspeita de que, juntamente com Hernâni Antunes, o ex-director executivo do grupo de telecomunicações está envolvido num alegado esquema fraudulento que terá lesado o Estado em mais de cem milhões de euros, tendo desviado da Altice cerca de 250 milhões.
Apesar de ainda não ter produzido uma acusação, uma vez que a investigação não terminou, o Ministério Público imputa a Armando Pereira 11 crimes, seis de corrupção activa no sector privado, um de corrupção passiva no sector privado e quatro de branqueamento de capitais, enquanto ao empresário bracarense Hernâni Vaz Antunes – que se mantém em prisão domiciliária – atribui a prática de 21 crimes, oito de fraude fiscal qualificada, seis de branqueamento de capitais, sete de corrupção activa no sector privado.
Ouvido durante três dias pelo juiz de instrução Carlos Alexandre no Verão passado, o empresário confessou grande parte dos factos que lhe vinham imputados pelo Ministério Público, tendo identificado também os vários beneficiários de muitos dos pagamentos indevidos que realizou para ganhar mercados e contratos. Foi este magistrado decretar a prisão preventiva agora revogada ao ex-CEO da Altice. Entre os beneficiários do pagamentos indevidos, Hernâni Vaz Antunes identificou, além de Armando Pereira, Akim Boubazine (ex-CEO da Altice Estados Unidos), Yossi Benchetrit (director de compras da Altice Estados Unidos e genro de Armando Pereira) e Alexandre Fonseca (ex-presidente executivo da Altice Portugal).
Os investigadores acreditam que os contactos e indicações transmitidas ao ex-presidente da Altice por Armando Pereira (que já havia sido seu patrão na Oni) permitiram assegurar a contratação de serviços a sociedades detidas por Hernâni Antunes, ou o recebimento de percentagens sobre estes negócios, mas também a venda de imóveis a sociedades da esfera do empresário em condições prejudiciais para a Altice. Na mira dos inspectores da Autoridade Tributária e do Ministério Público está, entre outras coisas, a venda de quatro edifícios em Lisboa, por 15 milhões de euros.