É uma construção moderna e, para o arquitecto responsável pelo projecto, assenta numa “solução arrojada” com vista para a paisagem natural do Gerês. Daniel Capela Duarte chamou-lhe Casa de Bouro, um local onde o passado e o presente comunicam através de uma habitação circular que começou a ganhar forma em meados de 2021.

O terreno, que também é redondo, é o registo do local onde o proprietário nasceu e a ruína, que outrora foi casa, o espaço onde viveu durante vários anos. “O objectivo era criar uma zona de logradouro a Sul mais íntima e mais protegida e sentimos que o movimento circular abraçava o terreno e criava uma protecção em relação àquilo que é envolvente”, explica o arquitecto ao P3.

Na entrada exterior, o antigo muro de pedra foi recuperado e, à medida que o declive do terreno aumenta, uma parede de betão com um ripado de alumínio dourado denunciam os primeiros traços do novo projecto. “É uma forma que acaba por configurar a entrada da casa. Quando entramos, temos um efeito surpresa porque só depois de entrarmos no hall é que temos uma relação visual com o jardim”, completa.

Em relação à escolha dos materiais, defende, “é uma antítese entre o cru do betão e o dourado” que traz um certo requinte à obra. Quando pesquisava mais sobre a junção de ambos, descobriu que também serviu de inspiração ao disco Concrete and Gold, dos Foo Fighters.

As janelas da sala mostram o espigueiro em ruína e a piscina suspensa com uma cascata de água que respeita as quedas de água do Gerês. Neste caso, a sustentabilidade foi uma das preocupações do arquitecto e é por isso que a água cai num depósito que a faz regressar novamente à piscina.

O fundo da mesma foi revestido da cor do ouro e, no interior da casa, o princípio manteve-se em certos apontamentos como nas torneiras, azulejos e até no pavimento de madeira de carvalho que mostra os veios cor de mel.

A Casa de Bouro, obra do atelier Mutant Arquitectura & Design, ficou concluída no Verão de 2022. O resultado foi, nas palavras de Daniel Capela Duarte, “o mais orgânico e enquadrado no terreno possível” e as fotografias de Ivo Tavares mostram-no. “Tentamos transmitir a sensação de ter uma casa pousada no terreno sem adulterar aquilo que era a sua preexistência”, conclui.