Estudo inicial para organizar Mundial 2030 terá que ser refeito para incluir Marrocos

Ministra dos Assuntos Parlamentares garante que não será construído qualquer estádio, mas parte dos cerca de 30 centros de estágio e de treino será reabilitada.

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O secretário de Estado do Desporto, João Paulo Correia, e a ministra dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, na audição na comissão parlamentar. LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO
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O estudo inicial elaborado para a apresentação da candidatura de Portugal e Espanha à organização do Mundial de Futebol de 2030 já “está desajustado” e será preciso fazer um novo, sobre os impactos e o calendário, que inclua Marrocos, admitiu a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares esta terça-feira no Parlamento. Porém, Ana Catarina Mendes não adiantou as conclusões desse primeiro estudo, apesar das questões dos partidos da oposição, e avisou que não há prazo para o próximo. “Não é possível dar mais informação”, desculpou-se.

A ministra, ouvida na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto a pedido da Iniciativa Liberal, reiterou que Portugal e Espanha irão entregar a carta de confirmação da intenção de organizarem o Mundial em 2030 até dia 31 deste mês, o prazo dado pela FIFA. E garantiu, repetidamente, que não será construído qualquer novo estádio para esta competição, sendo usados apenas os de Alvalade, do Dragão e da Luz, “os únicos que cumpriam os requisitos mínimos exigidos” pela FIFA e que vão receber uma dezena de jogos. Porém, haverá obras de requalificação a fazer em muitos dos cerca de 30 centros de estágio e treino espalhados pelo país.

Alegando o hiato temporal até ao evento desportivo – quase sete anos –, Ana Catarina Mendes não respondeu sobre planos de segurança, de mobilidade ou até de modernização das infra-estruturas, e também não falou sobre que investimentos públicos serão necessários fazer para o país receber a prova e os retornos financeiros previstos. “É prematuro falar nos custos; não sabemos qual a realidade daqui a sete anos.”

Vistorias aos estádios

A certeza mais próxima é a entrega à FIFA, até dia 31 deste mês, da carta de formalização da candidatura de organização do Mundial 2030 com as obrigações e responsabilidades dos três países na organização da prova. Para já, “estão a ser feitas vistorias aos estádios para [ver como] reforçar as características e capacidade”, disse a ministra. “Devemos encarar isto como um momento de afirmação do desporto, mas também [de] racionalizar os investimentos feitos ao longo dos anos.”

Citando uma auditoria do Tribunal de Contas que concluiu que o Euro 2004 custou mais de mil milhões de euros ao Estado e que muitas autarquias acabaram muito endividadas por um longo período, a liberal Patrícia Gilvaz defendeu ser fundamental que a sua geração não tenha que assumir custos desta dimensão e natureza. A ministra replicou que espera que na próxima semana, na discussão do Orçamento do Estado para 2024, a deputada da IL se lembre da boa gestão que o Governo está a fazer das contas certas para que as futuras gerações não sejam hipotecadas.

O debate político acabou por tomar o lugar das questões técnicas, com a ministra e a deputada do Chega Rita Matias a esgrimirem argumentos sobre os custos e a pouca transparência dos contratos da Jornada Mundial da Juventude e os alegados “peregrinos perdidos”.

A ministra não respondeu à larga maioria das perguntas dos partidos da oposição, incluindo se haverá regimes especiais de isenção fiscal, como aconteceu com as finais da Liga dos Campeões em 2020, da Liga das Nações em 2019 e até no Euro 2004; ou que mecanismos de controlo e transparência serão implementados.

Apenas defendeu que o evento terá “impacto positivo no PIB [Produto Interno Bruto], criará postos de trabalho e receita fiscal”. Também argumentou que “sustentabilidade será a palavra-chave” do projecto: do ponto de vista económico, porque gera receita e haverá “racionalização dos equipamentos”; do ponto de vista social, porque criará postos de trabalho com respeito pelos trabalhadores e trará coesão dentro do país e entre os vários países e culturas que organizarão a prova; e a candidatura irá apostar também na sustentabilidade ambiental, prometeu Ana Catarina Mendes.

A ministra salientou que o Mundial 2030 terá um formato diferente, bem mais alargado: para comemorar o seu centenário, irá realizar-se, numa primeira fase, na Argentina, Paraguai e Uruguai, e só depois em Portugal, Espanha, Marrocos, abrangendo três continentes. Depois de uma primeira versão que pressupunha 80 jogos, afinal agora serão 104. “É um momento histórico e de grande responsabilidade para o Estado português”, insistiu a ministra.

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