Deputados vão discutir (e decidir) se aceitam conferência da maçonaria no Parlamento

Ordens maçónicas querem organizar conferência sobre base teórica da maçonaria na biblioteca da AR, em Fevereiro, com especialistas internacionais. Santos Silva não quer decidir sozinho.

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Nuno Ferreira Santos
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Uma conferência sobre a base teórica da maçonaria especulativa, que o Instituto Português de Estudos Maçónicos (IPEM) quer organizar na biblioteca da Assembleia da República, promete provocar discussão na reunião desta quarta-feira da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, que se vai pronunciar sobre se o presidente da Assembleia, Augusto Santos Silva, a quem o IPEM pediu autorização para usar a biblioteca em Fevereiro, deve ou não ceder o espaço para o evento.

É ao presidente do Parlamento que cabe tomar a decisão, mas o regulamento das regras e procedimentos para o uso de espaços da Assembleia na organização de eventos promovidos por entidades externas prevê que possa pedir um parecer às comissões parlamentares competentes na matéria em questão. Na prática, é uma forma de respaldar a sua decisão. Foi isso que fez Santos Silva, ao solicitar àquela comissão um parecer sobre o “interesse, oportunidade e adequação da realização da iniciativa” no Parlamento.

Fernando Negrão, presidente da comissão, disse ao PÚBLICO que se vai discutir se se nomeia um relator para o parecer ou se se debate e decide de imediato a resposta ao presidente Augusto Santos Silva (embora tenha que se designar um deputado para passar a escrito a discussão e a resposta).

O social-democrata escusa-se a fazer qualquer comentário sobre o assunto, mas outros deputados adiantaram ao PÚBLICO que se espera que a maior parte dos elementos da comissão se mostrem contra a realização da conferência da maçonaria, justificando com a necessidade de o Parlamento não aparecer ligado a um evento de uma sociedade considerada secreta (tal como também não deveria acontecer com um evento de uma religião, por exemplo, afirmam alguns) e de evitar ser usado como um meio de promoção de qualquer outra entidade.

A maçonaria foi, há dois anos, um pomo de discórdia na Comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados, quando o PSD e o PAN propuseram que os políticos e altos cargos públicos passassem a declarar a sua “filiação, participação ou desempenho de quaisquer funções em quaisquer entidades de natureza associativa” exercidas nos três anos anteriores à entrada para o cargo ou que exercessem cumulativamente com o mandato.

A carta que o IPEM, integrado no Grémio Lusitano, enviou ao presidente do Parlamento é também assinada pelo grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (Fernando Cabecinha) e pelo presidente do Grémio Lusitano (Pedro Farmhouse), porque se trata de uma organização conjunta destas entidades.

O IPEM alega que tem, entre as suas prioridades estratégicas, organizar um programa de actividades que “visa aprofundar a compreensão e justa percepção da natureza e dos objectivos da maçonaria entre maçons e não-maçons”. E uma das formas de o fazer é “organizar periodicamente congressos, colóquios, palestras e reuniões de diversa índole”.

O evento terá o apoio do Grémio e do GOL — Maçonaria Portuguesa. E pretende ocupar a biblioteca nos dias 2 e 3 de Fevereiro. A conferência é dedicada ao tricentenário da publicação da obra As Constituições dos Franco-maçons Contendo a História, os Deveres, os Regulamentos, etc. da muito Antiga e Venerável Fraternidade, compilada pelo pastor presbiteriano James Anderson, “que é considerada a base teórica da Maçonaria Especulativa”.

O IPEM alega que o evento “tem uma clara dimensão académica”, descrevendo a lista de investigadores convidados, na sua maioria estrangeiros (Inglaterra, França e Espanha).

Não há um prazo definido para a Comissão de Assuntos Constitucionais responder a Augusto Santos Silva nem para este dar o seu veredicto à maçonaria.

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