Âncora de cargueiro chinês pode ter danificado gasoduto e cabos submarinos no Báltico
Finlândia diz ter encontrado uma âncora perto das infra-estruturas e quer perceber se foi um acto deliberado ou acidental. Primeiro-ministro sueco diz que danos a outro cabo foram propositados.
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As autoridades suecas acreditam que um cabo de telecomunicações submarino entre a Suécia e a Estónia foi intencionalmente danificado. Numa conferência de imprensa em Estocolmo na companhia do secretário-geral da NATO, o primeiro-ministro Ulf Kristersson disse que a danificação do cabo foi “propositada”, mas não adiantou quaisquer pormenores.
Na semana passada, a Suécia e a Estónia revelaram que um cabo de telecomunicações que percorre o fundo do mar Báltico tinha ficado parcialmente estragado. “Ainda se desconhece o que causou os danos”, dizia um comunicado do Ministério sueco da Defesa. Já esta segunda-feira, o Governo de Estocolmo acrescentou que parecia haver ligação entre estes danos e os causados a um gasoduto e a outro cabo de telecomunicações submarinos entre a Finlândia e a Estónia.
No início de Outubro, Helsínquia e Tallinn tornaram público que aquelas duas infra-estruturas estavam danificadas e que suspeitavam de sabotagem deliberada. A polícia finlandesa anunciou, entretanto, que encontrou uma âncora no fundo do mar. A teoria mais forte neste momento, disse um responsável policial esta terça-feira, é a de que os estragos tenham sido causados pelo arrastar daquela âncora.
“A próxima questão [a responder] é se foi intencional, negligência ou má prática de navegação. E aí é que entramos na questão se havia ou não motivo para isto”, afirmou Robin Lardot, acrescentando que é “demasiado cedo” para ter certezas.
A polícia acredita que a âncora retirada do fundo do mar pode pertencer a um cargueiro chinês que passou naquela zona e que, ainda segundo as autoridades, navega de facto sem uma das suas âncoras. Robin Lardot disse que já tentaram contactar o navio, de nome NewNew Polar Bear, até agora sem sucesso.
O cargueiro foi fotografado no porto de São Petersburgo a 9 de Outubro, um dia depois de os operadores finlandês e estónio terem decidido suspender o fluxo de gás no gasoduto por suspeitas de uma possível fuga. Nas últimas semanas, a Finlândia tem-se abastecido de gás por via marítima.
Com cerca de 60 quilómetros de extensão, o gasoduto atravessa o Golfo da Finlândia entre a localidade finlandesa de Inkoo e a estónia de Paldiski, estando na rota de qualquer navio que percorra o Báltico em direcção ou a partir de São Petersburgo. Após anos de discussões, a sua construção foi decidida em 2014, logo depois da anexação russa da Crimeia e do início da guerra no Donbass, para que ambos os países pudessem diminuir a sua dependência energética da Rússia. A estrutura foi inaugurada em 2020.
O porta-voz do Presidente russo, Dmitri Peskov, disse na segunda-feira que a Rússia não tinha qualquer responsabilidade nos danos causados ao gasoduto. E o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning, pediu às autoridades finlandesas que investigassem o sucedido de forma “objectiva, justa e profissional”.
Em Estocolmo, o secretário-geral da NATO reconheceu que “as dezenas de milhares de quilómetros” de oleodutos, gasodutos e cabos submarinos dos aliados são “infra-estruturas vulneráveis”. Jens Stoltenberg sublinhou que ainda não há “qualquer conclusão final” sobre o que aconteceu na Finlândia e na Suécia. A Aliança tem desde Junho do ano passado, na sequência da sabotagem dos gasodutos Nord Stream, um centro específico para a segurança destas infra-estruturas submarinas.
A Finlândia entrou oficialmente na NATO em Abril deste ano e a Suécia deve aderir em breve, agora que a Turquia decidiu dar o seu consentimento (faltando apenas o da Hungria). Ambos os países, que mantinham há muitas décadas uma política de não-alinhamento militar, mudaram de opinião aquando da invasão russa da Ucrânia.
Tanto as Forças Armadas suecas como a NATO decidiram reforçar a sua presença naval no mar Báltico. “Devido aos eventos recentes, a vigilância marítima está a ser feita mais intensamente e envolve uma cooperação mais estreita entre as agências governamentais e os parceiros internacionais”, disse o ministro da Defesa da Suécia, Pal Jonson.