Tom Dixon: do design democrático às peças de museu

Exposição junta uma selecção das últimas criações de Dixon — da iluminação ao mobiliário, passando por acessórios — e pode ser vista até ao final desta semana.

Foto
Tom Dixon na loja da Area, no Centro Comercial das Amoreiras Ricardo Oliveira Alves
Ouça este artigo
00:00
03:45

Um designer de produto é alguém atento às necessidades dos outros e o britânico Tom Dixon não é excepção. Conhecido pelos seus candeeiros que parecem vidro a derreter-se por cima das nossas cabeças, durante o confinamento, o designer observou que, estando mais por casa, as pessoas andavam de um lado para o outro, de um quarto para a sala, da sala para o terraço, e, por isso, desenhou um candeeiro portátil que funciona com baterias recarregáveis. Candeeiros inspirados nos seus best-sellers.

Tom Dixon esteve em Lisboa no final de Setembro para apresentar uma exposição concebida pela Area, na sua loja no Centro Comercial das Amoreiras. A exposição junta uma selecção das últimas criações de Dixon — da iluminação ao mobiliário, passando por acessórios — e pode ser vista até ao final desta semana. O trabalho de Tom Dixon faz parte da colecção permanente de vários museus como o londrino Victoria & Albert Museum, o parisiense Centre Pompidou e o MOMA de Nova Iorque.

Aos jornalistas, o designer lembra que em tempos colaborou com a Habitat, a marca londrina de design. “Não me apercebi que a Area era a velha Habitat. Foi engraçado voltar a esta relação antiga”, diz. A parceria não é nova e Tom Dixon já fez, por exemplo, colaborações com a Ikea, revelando que o seu design pode ser democrático. Com a marca sueca aprendeu imenso sobre as casas das pessoas, como estas vivem, quantas vezes mudam de casa. “Foi como ir à universidade”, brinca, acrescentando que a Ikea “tem mais conhecimento sobre casas do que qualquer outra empresa” devido aos inquéritos feitos aos clientes.

“E fazem preços democráticos. É muito satisfatório poder trabalhar com esses preços”, continua para, logo de seguida, referir o prazer que lhe dá trabalhar com marcas de luxo italianas, que fazem “coisas extremamente caras”. Há peças que são icónicas, como os candeeiros Melt ou Stone, ou as cadeiras Fat, que parecem abraçar o corpo de quem se senta nelas e que existem em dezenas de cores e tecidos. Ou, ainda a cadeira S-Chair, desenvolvida com a marca de luxo italiana Cappellini, na década de 1980, que parece um elegante "s".

O designer, que recebeu a Ordem do Império Britânico, pelo seu serviço em prol do design do seu país, criou a marca epónima em 2002. Actualmente emprega cerca de uma centena de pessoas (“85 em Londres, dez em Nova Iorque, três em Hong Kong”, enumera) e está representado em mais de nove dezenas de países. E além do design industrial, há outros projectos que tem abraçado como o design de interiores (para o qual tem uma equipa pequena, refere) — por exemplo, os seus candeeiros ou cadeiras são peças marcantes em salas de restaurantes ou em halls de hotéis.

Foto
O designer com algumas das suas peças mais icónicas PETE NAVEY

Mas há mais: recentemente fez um projecto na Dinamarca, Suécia e Finlândia de apartamentos “mais compactos”, mas com enormes espaços comuns (para lavandaria, ginásio e espaços de trabalho), a pensar em jovens em começo de vida ou pessoas em final de vida, que já não precisam de casas tão grandes. “Os projectos têm de se adaptar porque há um problema no mercado [da habitação]”, refere, dando este projecto nórdico como exemplo.

A ligação a Portugal não se resume à Area, com quem colabora há um quarto de século, mas há também uma parceria com a Corticeira Amorim, diz, no projecto "The Cork", lançado em 2020, uma colecção de quatro peças de mobiliário em cortiça e poliuterano. “Gostava de fazer mais, mas comercialmente não teve sucesso porque foi lançada durante a pandemia e, em termos fotográficos não funciona”, lamenta, referindo que são peças boas para espaços como restaurantes porque a cortiça absorve o som.

Foto
Uma estante, um banco e duas mesas são a proposta "The Cork" de Tom Dixon DR

Sente-se responsável por criar tendências? "Sou muito irresponsável! O design é um bom sítio para sermos curiosos. Tudo é design, existem infinitas possibilidades. O futuro pode ser uma boa surpresa, algo em que ainda não tenha pensado”, conclui.

Sugerir correcção
Comentar