Arquitectura
Em Aveiro, um apartamento todo azul captou a atenção dos arquitectos europeus
O Apartamento Monochrome vive num azul intenso que transmite "uma sensação de irrealidade" e conforto. O projecto é um dos finalistas do prémio de arquitectura Mies van der Rohe.
Era um apartamento sem história com vista para as tradicionais casas às riscas da Costa Nova, em Aveiro. O próximo capítulo tinha um par de regras: ser diferente e respeitar o orçamento reduzido. Pintar o apartamento todo num azul forte foi a proposta que os arquitectos João Carmo Simões e Daniela Sá fizeram ao proprietário. E foi aceite. O gesto, que apelidam de “arriscado”, conseguiu chamar a atenção dos arquitectos europeus.
O Apartamento Monochrome, concluído em 2022, é um dos 362 projectos finalistas do prémio Mies van der Rohe, que serão entregues em Abril de 2024. Para João Carmo Simões, é “o prémio mais importante de arquitectura na Europa” e o facto de ter reconhecido um projecto tão pequeno e colocá-lo lado a lado com edifícios maiores como museus, escolas e mercados comerciais foi um destaque ainda mais especial, adianta em entrevista ao P3.
Segundo o arquitecto, a cor transforma a casa num ambiente capaz de nos fazer desacelerar da correria diária e apreciar o espaço que nos envolve. Ao mesmo tempo, tem um dos factores que se procura numa casa: é acolhedora.
Neste caso, não há materiais para destacar, não existem “pedras caras ou madeiras especiais”. A camada azul é tudo quanto aqui existe. É o elemento que protege o pavimento de madeira, as paredes, os tectos, as portas, as janelas, os armários da cozinha, as torneiras e até os interruptores. “Estamos habituados a entrar num sítio ser uma cacofonia de materiais e cores e ali o que se fez foi tirar isso usando uma só tonalidade que reveste todos os elementos. Criámos uma sensação de irrealidade que nos envolve e, ao mesmo tempo, nos tranquiliza”, aponta.
Os pormenores de cada um destes materiais, muitos deles reciclados, mostram um trabalho de carpintaria minucioso com contornos e curvas que deixam entrar uma “luz serena” do exterior que percorre suavemente as divisões. As pontuais linhas de luz junto às paredes e tecto da cozinha ajudam a compor o ambiente harmonioso, enquanto o espelho redondo e as portas de vidro nos fazem acreditar que o espaço tem mais do que 68 metros quadrados.
“Esta ideia do monocromático adequou-se ao cliente, espaço e objectivo. O azul, apesar de ser uma cor fria, neste caso também é quente e tem sempre esta referência ao céu que fica reflectido na ria [de Aveiro] e faz com que, num dia chuvoso, tudo fique da mesma cor”, conclui.