Antiga ministra socialista critica “baixo” financiamento público da ciência

Lançado o livro O Futuro da Ciência e da Universidade, coordenado por Maria de Lurdes Rodrigues, que foi ministra da Educação entre 2005 e 2009.

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Maria de Lurdes Rodrigues, que foi ministra da Educação entre 2005 e 2009, num governo de José Sócrates Matilde Fieschi

A antiga ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues criticou o "baixo" financiamento público da ciência em Portugal, sublinhando que nos últimos anos o montante atribuído pelo Orçamento do Estado desceu para níveis iguais aos de 1991.

Em declarações aos jornalistas na Universidade do Minho, em Braga, no lançamento esta quinta-feira do livro O Futuro da Ciência e da Universidade, de que é coordenadora, Maria de Lurdes Rodrigues apelou para a urgência da inversão daquela trajectória e disse que é "muito preocupante" a forte dependência do sistema científico nacional dos fundos europeus.

"A ciência tem de continuar a ser uma prioridade política para o futuro dos jovens, para o futuro do país, porque, se não fizermos agora os investimentos necessários, o futuro pode mesmo estar comprometido", alertou.

Maria de Lurdes Rodrigues foi ministra da Educação entre 2005 e 2009, num governo liderado pelo socialista José Sócrates, sendo actualmente reitora do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa.

A antiga governante disse compreender que as dificuldades decorrentes da intervenção da troika em Portugal, mas defendeu que "é necessário agora retomar o investimento em ciência, sem o qual não haverá futuro".

Uma retoma que, ressalvou, não vê espelhada no Orçamento do Estado para 2024, em que consta "um aumento de 5% para a Fundação para a Ciência e a Tecnologia" (FCT), que "não cobre sequer" a inflação.

Para Maria de Lurdes Rodrigues, é "muito preocupante" a grande dependência do sistema científico nacional dos fundos europeus.

"É muito preocupante porque nos deixa vulneráveis às decisões políticas da Comissão Europeia", referiu, defendendo que pode ficar em causa a soberania de Portugal para definir aquilo que é prioritário para o país.

O tema foi também abordado pelo reitor da Universidade do Minho e vice-presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), Rui Vieira de Castro, que aludiu à "contradição quase insanável" entre o discurso do Governo que enfatiza a importância da ciência e o "baixo" nível de financiamento do sector.

"Não há discurso público e designadamente político sobre ciência, sobre a investigação, sobre o ensino superior que invariavelmente não seja um discurso a sublinhar a importância destes sectores. A questão é que, depois, quando nós vamos ver as medidas concretas que são adoptadas e, em particular, os financiamentos que são dedicados a essas áreas de actividade, eles revelam-nos uma profundíssima estagnação", criticou Rui Vieira de Castro.

Para o reitor da Universidade do Minho, quando o investimento público em ciência "se mantém no mesmo nível que estava há 30 anos, alguma coisa está claramente mal".

O responsável alertou que, caso o rumo não seja invertido. "Haverá perdas muito significativas no sistema científico", nomeadamente porque ficará sem condições financeiras para suportar a vinculação de investigadores.