Ex-advogada de Trump declara-se culpada de crimes eleitorais na Georgia

Sidney Powell fez um acordo para uma condenação a seis anos de prisão com pena suspensa, ficando obrigada a testemunhar contra outros acusados, incluindo Donald Trump.

Foto
Sidney Powell declarou-se culpada de seis crimes Reuters/ELIJAH NOUVELAGE
Ouça este artigo
00:00
04:12

A advogada norte-americana Sidney Powell, uma das principais promotoras das queixas de fraude eleitoral lançadas por Donald Trump após a sua derrota na eleição presidencial de 2020, declarou-se culpada de seis crimes no estado da Georgia, num processo que também envolve o ex-Presidente dos Estados Unidos.

Mediante um acordo feito com o gabinete da procuradora distrital de Fulton, na Georgia, a ex-advogada de Trump declarou-se culpada de seis crimes, incluindo extorsão e conspiração para cometer fraude eleitoral (acusações que partilha com os outros 18 acusados no mesmo processo) e de quatro crimes relacionados com o acesso não autorizado a máquinas de voto no município rural de Coffee, em 2020.

O acordo prevê também que Powell peça desculpa, por escrito, aos habitantes da Georgia, e que se disponibilize para testemunhar em julgamento contra os outros acusados. Em troca, a equipa da procuradora Fani Willis propõe ao juiz que a advogada seja condenada a um máximo de seis anos de prisão, com pena suspensa, e ao pagamento de uma indemnização de seis mil dólares (5600 euros).

O acordo é conhecido um dia antes da selecção de jurados para o julgamento de Powell e de um outro réu, Kenneth Chesebro, que é acusado de ter coordenado um plano para recrutar eleitores e militantes do Partido Republicano, em Dezembro de 2020, para se fazerem passar por “grandes eleitores” de Trump — os representantes dos candidatos presidenciais em cada estado norte-americano.

Segundo o plano, estes grandes eleitoresde Trump, que não tinham qualquer validação legal, serviriam para fornecer uma justificação ao então vice-presidente dos EUA, Mike Pence, para não aceitar os votos dos grandes eleitores de Biden durante a cerimónia de 6 de Janeiro de 2021, no Capitólio — um plano que Pence se recusou a aceitar por ser inconstitucional, como viria a ser confirmado o Supremo Tribunal dos EUA.

Processo de difamação

Powell é a segunda pessoa acusada no processo da Georgia a declarar-se culpada; em Setembro, Scott Hall, um avalista profissional de 59 anos, declarou-se culpado de cinco crimes e foi condenado a cinco anos de prisão com pena suspensa.

Os restantes 18 réus — com destaque para Trump e para o seu ex-advogado Rudolph Giuliani — declararam-se inocentes e estão a aguardar a marcação do início dos seus julgamentos.

Tal como outros envolvidos no processo na Georgia (como é o caso de Giuliani), Powell é alvo de um processo por difamação interposto pela empresa Dominion, responsável por máquinas de votação electrónica nos EUA.

A Dominion exige a Powell uma indemnização de 1,3 mil milhões de dólares (1,1 mil milhões de euros) pelo seu envolvimento numa “campanha de desinformação viral” assente em “acusações comprovadamente falsas”.

Na sequência da eleição de 2020, Powell surgiu em conferências de imprensa, ao lado de Giuliani, a afirmar que os votos tinham sido manipulados a favor de Biden numa campanha que teria envolvido a CIA, a China, Cuba, o ex-Presidente venezuelano Hugo Chávez, a Fundação Clinton e o multimilionário George Soros.

Em Abril, o canal Fox News fez um acordo extrajudicial com a Dominion para o pagamento de 787,5 milhões de dólares (746 milhões de euros) por difamação nas eleições presidenciais de 2020.

Trump em quatro julgamentos

No total, o ex-Presidente dos EUA foi acusado de 91 crimes em quatro processos: 13 na Georgia, por tentativa de subversão dos resultados da eleição presidencial de 2020 naquele estado norte-americano; quatro a nível federal, numa acusação centrada na tentativa de subversão dos resultados da eleição de 2020 e na invasão do Capitólio; 40 também a nível federal, no caso relacionado com a retenção ilegal de documentos confidenciais da Casa Branca após o fim do seu mandato; e 34 por falsificação de registos comerciais em Nova Iorque, num caso relacionado com o pagamento pelo silêncio de uma antiga actriz de filmes pornográficos na recta final da campanha eleitoral de 2016.

Se as datas para o início dos julgamentos não forem alteradas, o primeiro a ir a tribunal será o processo federal relacionado com a eleição de 2020 (4 de Março de 2024), seguindo-se o caso da falsificação de registos comerciais (25 de Março) e depois o processo dos documentos confidenciais (20 de Maio).

O juiz responsável pelo caso na Georgia ainda não marcou uma data para o início do julgamento de Trump, mas recusou um pedido da procuradora local para um arranque em Outubro.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários