Moradores das Fontainhas “perdem tudo” com as inundações, pela segunda vez

Passados nove meses desde as cheias de Janeiro, os moradores do Bairro dos Moinhos, nas Fontainhas, vêem as casas inundadas novamente.

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Depressão Aline ameaça as famílias nas Fontainhas Nelson Garrido
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No Porto, a tempestade Aline não deu tréguas. Durante a noite desta quarta-feira e a madrugada de quinta foram registadas 70 ocorrências. O Bairro dos Moinhos, nas Fontainhas, foi uma das zonas mais fustigadas pela tempestade. Passados nove meses desde as cheias de Janeiro, as famílias deste bairro viram a tempestade entrar-lhes pela casa dentro, mais uma vez. A família de Jorge Teixeira, de 39 anos, teve de ser realojada temporariamente no Seminário de Vilar.

Jorge abre a porta de casa e aponta para a janela de um dos quartos: “A água entrou por ali, estragou tudo”. O morador do Bairro dos Moinhos indica, com pesar, que já é a segunda vez este ano que “perde tudo". Conta ao PÚBLICO que, depois das inundações de Janeiro, “só com a ajuda de amigos e familiares” é que se conseguiu “pôr de pé”, mas diz não saber quem é que o vai ajudar agora.

Jorge e a sua família foram realojados nesta última noite no Seminário de Vilar, mas diz “que não vai mais para lá”. “Perdemos tudo, puseram-nos em quartos separados e ainda queriam que pagássemos pelas refeições”.

A família de Jorge Teixeira, 39 anos, teve de ser realojada temporariamente Nelson Garrido
O Bairro dos Moinhos, nas Fontainhas, foi uma das zonas mais fustigadas pela depressão Aline Nelson Garrido
A água entrou pelas portas e janelas das casas Nelson Garrido
Pela segunda vez este ano, os moradores do Bairro dos Moinhos vêm as suas casas destruídas pela água Nelson Garrido
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A família de Jorge Teixeira, 39 anos, teve de ser realojada temporariamente Nelson Garrido

Ao PÚBLICO, a Câmara Municipal do Porto avança que a família de Jorge “já se encontra em reunião” com a Domus Social — empresa de Habitação e Manutenção do Município do Porto — para que seja encontrada uma solução de realojamento definitiva.

Também Cláudia Silva, de 29 anos, outra das moradoras do Bairro dos Moinhos, conta que passou “a noite sem dormir”. “Por volta das 19h começaram as inundações”, relata, acrescentando que todas as casas sofreram com a intempérie. “Não temos condições para morar aqui”, sublinha.

Moradores “perdem tudo” pela segunda vez

A história repete-se passados nove meses. O futuro das famílias que vivem naquele bairro nas Fontainhas continua incerto. Em Janeiro, a autarquia do Porto avançava aos jornalistas que estava em processo de negociações com os senhorios daquelas habitações para que estas fossem adquiridas pela câmara municipal. Mas até hoje as famílias do bairro ainda não têm uma resposta.

Questionada pelo PÚBLICO, a CMP confirmou a intenção de avançar para a compra das 23 casas do bairro, mas não acrescenta muito ao que já tinha dito em Janeiro. "A Câmara Municipal do Porto está neste momento em processo de negociação com os proprietários", refere o gabinete de comunicação de Rui Moreira, sem adiantar em que fase estão as negociações e se já foram estabelecidos valores para a operação.

Na manhã de quinta-feira, Cláudia Silva e Jorge Teixeira testemunhavam que não há condições para viver naquele bairro. Depois da noite no Seminário de Vilar, onde apenas três membros do agregado ficaram alojados, foi atribuída uma nova habitação à família, refere o gabinete de comunicação da autarquia. "Podemos confirmar que o representante desta família esteve, hoje, na Domus Social, e que já lhe foram entregues as chaves da nova habitação", informa a CMP, em resposta escrita ao PÚBLICO. Esta mesma empresa municipal "está a proceder a mais realojamentos", acrescenta.

Aquela zona da Fontainhas está classificada como “zona de perigo”, mas quem lá vive diz nunca ter presenciado inundações com estas proporções. Apontam o dedo ao Metro do Porto: “Desde que fizeram as obras e encanaram as águas todas para aqui que isto não tem condições”, declara Jorge Teixeira.

Tal como já tinha avançado aos jornalistas, na noite de quarta-feira, a CMP diz que o "futuro do bairro não passará por habitação", mas sim pela criação de "bacias de retenção" naquela área.

De facto, a ribeira do Poço das Patas passa, entubada, pela viela que percorre o Bairro dos Moinhos para ir desaguar ao Douro. Já em Janeiro, com o mau tempo, as tubagens não aguentaram a pressão das águas e rebentaram. Agora, Jorge Teixeira diz tratar-se da mesma situação: “Esta conduta rebenta com o excesso de água e foi desde as obras do metro que me começou a entrar água em casa”, reforça. Com Camilo Soldado

Texto editado por Ana Fernandes

Notícia actualizada às 20h14: acrescenta respostas da câmara

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