Preços do petróleo disparam com receios de disrupções da oferta
Os receios em torno do agravamento da guerra no Médio Oriente marcam o comportamento dos investidores. O petróleo chegou a subir mais de 2,5% nos mercados internacionais e o ouro também encarece.
Os preços do petróleo estão a aumentar de forma significativa nos mercados internacionais, ao mesmo tempo que o ouro, historicamente um activo de refúgio, também está a valorizar, numa altura em que o comportamento dos investidores está a ser marcado pelos receios de um alargamento da guerra no Médio Oriente.
Os movimentos nos mercados financeiros registam-se depois de, na noite de terça-feira, o Hospital Árabe Al-Ahli, em Gaza, ter sido bombardeado, provocando centenas de mortos. O ataque, que está a gerar uma onda de protestos no Médio Oriente e por todo o mundo, não foi reivindicado por nenhuma das partes.
Por esta altura, os líderes ocidentais vão encetando esforços diplomáticos. Nesta quarta-feira, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aterrou em Telavive, em Israel, onde irá encontrar-se com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, James Cleverly, também deverá deslocar-se, em breve, a vários países do Médio Oriente, incluindo o Egipto, o Catar e a Turquia.
É neste contexto que o barril de Brent, negociado em Londres e que serve de referência para o mercado europeu, chegou a valorizar mais de 2,5% e a ultrapassar os 92 dólares nesta sessão, acabando, ainda assim, por atenuar os ganhos para 1,8% ao final da tarde, mantendo-se na casa dos 91 dólares por barril. Já o West Texas Intermediate (WTI), negociado em Nova Iorque, chegou a apreciar 2,7% e a negociar na casa dos 89 dólares por barril, embora a cotação tenha acabado por baixar para a casa dos 88 dólares por barril. Os valores mantêm-se, ainda assim, longe dos máximos acima dos 120 dólares por barril que foram atingidos no ano passado, um movimento que foi influenciado pela guerra na Ucrânia.
A motivar este movimento estão os receios dos investidores de que um eventual conflito alargado no Médio Oriente, onde se encontram vários dos maiores exportadores de petróleo do mundo, venha a causar disrupções na oferta da matéria-prima. A este propósito, nesta quarta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Hossein Amir-Abdollahian, afirmou que os membros da Organização para a Cooperação Islâmica deveriam impor sanções a Israel, incluindo um embargo às exportações de petróleo.
Ao mesmo tempo, o ouro, tido pela maioria dos investidores como um activo de refúgio e que tende a valorizar em alturas de incerteza geopolítica, está a subir mais de 1% e já negoceia acima de 1962 dólares (mais de 1857 euros, à cotação actual) por onça (cerca de 31,10 gramas), o valor mais elevado em cerca de um mês.
Em sentido contrário, as principais bolsas europeias negociaram em baixa na sessão desta quarta-feira, ainda que sem quedas acentuadas. O Stoxx 600, índice que reúne as 600 maiores cotadas europeias e que serve de referência para a região, acabou por encerrar a desvalorizar cerca de 1%. Por cá, o PSI encerrou a sessão praticamente inalterado e valorizou 0,05%.
No caso do gás natural, os preços continuam distantes dos valores atingidos nos primeiros meses da agressão russa contra a Ucrânia e ainda estão em cerca de metade do valor registado há um ano, mas o efeito da guerra no Médio Oriente tem-se feito sentir nos últimos dias. O contrato de Novembro do TTF – o índice de maior liquidez e que serve de referência para a Europa – transaccionava esta quarta-feira nos 49,44 euros, a subir cerca de 1,1%. Já o contrato para o Inverno de 2024 valia 56,58 euros.
Não são só os receios de uma futura escalada de violência generalizada no Médio Oriente e a incerteza que esse quadro acarreta para a geopolítica mundial que têm efeito sobre os preços, o cenário de escassez de gás pode voltar a estar sobre a mesa. No momento presente, a guerra em Israel e Gaza já levou a petrolífera Chevron a suspender a produção de gás natural liquefeito no campo offshore de Tamar, junto à costa israelita, suspendendo as exportações de gás natural pelo gasoduto entre Israel e o Egipto, que por sua vez exporta para a Europa e para a Turquia.
A exportação para o Egipto está agora a ser feita através de um gasoduto alternativo que atravessa a Jordânia, mas teme-se que as perturbações, se se prolongarem, possam fazer diminuir as quantidades de gás que chegam à Europa.
Por outro lado, os trabalhadores da Chevron na Austrália também anunciaram que vão voltar às greves nos próximos dias, o que é mais um sinal de que a oferta de gás natural pode diminuir a nível global.
(Notícia actualizada às 18h00 com as cotações de fecho)