João Bosco e MPB4, dois gigantes do Brasil ao vivo no Porto e em Lisboa
Dois concertos juntam numa mesma noite dois nomes históricos da música brasileira: João Bosco e MPB4. Esta quarta-feira na Casa da Música e domingo no Tivoli BBVA.
Cinco anos depois de apresentar na Casa da Música e no Tivoli BBVA o álbum Mano Que Zuera, o cantor e compositor mineiro João Bosco regressa às mesmas salas para um concerto de voz e violão que, na segunda parte, conta com o grupo MPB4, outro nome histórico da Música Popular Brasileira (têm 60 anos de carreira e Bosco 50). Esta quarta-feira actuam no Porto (no Outono em Jazz) e dia 22 em Lisboa, sempre às 21h.
Se em 2018 João Bosco se apresentou em quarteto, agora vem em solo absoluto, num formato que Portugal já conhece de espectáculos anteriores. “Vou seguir a tendência de apresentar um repertório que fique bem neste formato”, diz João Bosco ao PÚBLICO. “É algo que conheço bem, porque comecei a minha vida artística com voz e violão. Aquele disco de 1972 [o primeiro que gravou, um single lançado com o jornal O Pasquim], com o Antonio Carlos Jobim gravando Águas de Março e eu gravando Agnus sei, com o meu parceiro Aldir Blanc, era de voz de violão. E durante a minha carreira fiz alguns discos assim, tal como o primeiro Acústico da MTV no Brasil.”
Entre as escolhas de João Bosco para o concerto no Porto, já que se integra no ciclo Outono em Jazz, estarão Senhoras do Amazonas (“que eu fiz uma leitura sinfónica com o meu amigo, já falecido, maestro Radamés Gnattali”; e gravei também com Sérgio Mendes e num DVD com o Gonzalo Rubalcaba e o Ivan Lins”), Corsário (“gravada primeiro pelo Ney Matogrosso, depois por mim, pela Elis Regina e pelo Milton Nascimento”), Agnus sei e Caça à raposa (gravada por Elis e por Milton).
O jazz, por sua vez, não é alheio ao balanço e à pulsação rítmica das canções de Bosco. “No disco Abricó-de Macaco, de 2020, eu faço uma leitura do Blue in green, do Miles Davis e do Bill Evans, com aquela canção minha e do Aldir, que a Elis também gravou, que é Transversal do tempo. Essas canções caem bem no Porto, por causa do motivo do festival. Embora nos dois lugares eu tenha de tocar os meus sambas, que o público espera, como Incompatibilidade de gênios, Pret a porter de tafetá, Nação, Coisa feita.”
Haverá também, nos dois concertos, uma canção que junta Bosco em palco aos MPB4: “O Miltinho, do MPB4, pediu que eu fizesse com eles O bêbado e a equilibrista, com arranjo vocal para o quarteto, que eu acho que vai ficar muito bonito. A gente começa com aquela citação do Smile, do Charlie Chaplin, e vai desembocar na canção [que, lançada na voz de Elis Regina em 1979, se transformou num hino pela amnistia].
Miltinho, um dos fundadores [em 1965] e actuais integrantes dos MPB4, dá relevo a esta partilha do palco com João Bosco, um dos muitos compositores cujas canções integram o extenso repertório do quarteto: “É sempre muito importante quando a gente tem participações assim. Tivemos com o Chico Buarque, muito tempo, com o Ivan Lins, a Roberta Sá, vários artistas, e é muito prazeroso. Nestes 60 anos, a gente já gravou muita coisa do João, que é maravilhoso. Vai ser uma coisa muito bonita, cantarmos juntos O bêbado e a equilibrista.” No resto da noite que lhes cabe, Miltinho diz que vão cantar “coisas que são sucessos do MPB4, como Amigo é pra essas coisas, Roda viva, Iolanda, Porque merece amor (do Sílvio Rodriguez), A lua, De frente pro crime”. Além de Miltinho, compõem o MPB4 Aquiles Reis, Dalmo Medeiros e Paulo Malaguti.
A longevidade na carreira não transformou Bosco e os MPB4 em objectos históricos, porque continuam bem activos. Bosco, desde Mano Que Zuera (2017) já gravou três álbuns (Abricó-de-Macaco e Canto da Praya, com Hamilton Holanda, ambos de 2020; e Gênesis, com a Orquestra Ouro Preto, 2022) e prepara um novo trabalho que deve sair em 2024. “Fiz uma gravação recente com Jaques Morelenbaum [apenas com com violão, violoncelo e voz], para esse disco novo que só terá músicas inéditas. Chama-se O canto da Terra por um fio, no sentido de mostrar os perigos que o planeta passa neste momento com os ataques dos seres humanos ao ambiente, desrespeitando o equilíbrio ambiental.”
Os MPB4, por sua vez, têm um programa extenso para assinalar os seus 60 anos de vida na música: “Está sendo feito um documentário, que vai contar a vida do grupo e vamos gravar em Janeiro de 2024 um disco comemorativo, na Biscoito Fino. Escolhemos doze compositores e vamos gravar com eles. Posso adiantar alguns: João Bosco, Milton Nascimento, Chico Buarque, Edu Lobo, Ivan Lins, Alceu Valença, Kleiton & Kledir.”