A americanização de Martin Scorsese
Do gueto ítalo-americano, que documentou como se fizesse home movies, a figura patriarcal na representação épica do seu país: Assassinos da Lua das Flores ou a americanização de Martin Scorsese.
Foi na terceira classe do navio Germania, que o levou e à sua família de Palermo até à América, no momento em que teve uma epifania ao avistar a Liberdade Iluminando o Mundo, no porto de Nova Iorque, que Francesco Rosario Capra, filho de agricultores sicilianos e nessa viagem com cinco anos de idade, começou a trabalhar a superação da sua identidade. Partiria ali do zero. A Frank Capra (1897-1991), cineasta, chamar-se-ia mais tarde, por arrumação nos dicionários, às vezes por rotina da biografia, “ítalo-americano”. Sem convenientemente se notar que dessa fracção de uma identidade hifenizada o “ítalo” foi consumido pelo “americano”, rasurado, e que as raízes sicilianas tiveram, quando muito, papel de mera figuração na obra do realizador de It’s a Wonderful Life/Do Céu Caiu uma Estrela (1946). Tudo começou no navio e perante a Estátua da Liberdade. Porque a América foi o seu credo e o seu apostolado. Numa obra — acrescente-se, e não é pormenor de pouca importância, apesar de tudo invadida pela angústia quer na década áurea, os anos 30, quer no pós-guerra — dedicada de alma e coração à propaganda do american way of life. Frank Capra sempre quis ser americano.
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