Maioria da oposição na Polónia confirmada nos resultados finais

Partido no Governo, sendo o que teve mais votos, deverá receber, em primeiro lugar, mandato do Presidente. “A Europa ainda não pode respirar fundo”

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Jaroslaw Kaczynski Reuters/KACPER PEMPEL
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A maioria da oposição nas eleições de domingo na Polónia avançada pelas sondagens à boca das urnas foi confirmada pelo resultado final oficial anunciado nesta terça-feira.

O Partido Lei e Justiça (PiS), no Governo, foi o que teve mais votos: 35,38%. Seguiu-se depois a Plataforma Cívica, com 30,7%; a Terceira Via, com 14,4%; a Nova Esquerda, com 8,61% (os três partidos têm, assim, uma maioria); e finalmente, em quinto lugar, a Confederação, com 7,16%.

A participação foi a maior em legislativas no país, com 74,4%. A votação provocou um grande entusiasmo, com muitas assembleias de voto a terem pessoas a votar muito depois da hora de encerramento das urnas. Uma foi especialmente falada, em Wroclaw, onde as pessoas esperaram até às 3h da manhã para votar (a comissão eleitoral anunciou que todas as pessoas na fila até às 21h poderiam ainda votar). Uma pizaria local entregou pizas gratuitamente a quem estava a querer votar.

Muitas pessoas na Polónia viram esta eleição como estando em jogo verdadeiramente o futuro democrático do país, ao fim de oito anos de mandato do PiS, que controlou tribunais e a TV do Estado, com a votação a ser disputada num campo muito desigual a favor do Governo.

Como aliado do partido do Governo, espera-se que o Presidente, Andrzej Duda, dê ao PiS a primeira hipótese de formar governo, ainda que este não tenha qualquer via para uma maioria, nem com o partido Confederação, que é ainda mais à direita, e que durante a campanha tinha, aliás, prometido não se aliar a ninguém (é um partido fortemente anti-sistema). A alcunha de Duda é “Presidente caneta”, por assinar a esmagadora maioria das leis do PiS, mesmo que de legalidade duvidosa. No entanto, uma ou outra vez, ele surpreende, dizia, ainda antes da votação, a analista do European on Council on Foreign Relation (ECFR) Zofia Kostrzewa.

O presidente do PiS, Jaroslaw Kaczynski, declarou: “temos dias de luta à nossa frente", cita o diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ).

Além de não se prever uma transferência rápida do poder, com o prazo que o PiS ainda teria para formar um governo, vários analistas temem manobras do partido para se manter. “O PiS tem muitos meios de dificultar a formação de um novo governo”, alerta Reinhart Veser no FAZ. "A Europa não pode ainda respirar fundo", acrescenta, dizendo ainda que a União Europeia deve estar atenta a potenciais problemas na transição do poder. O comentário ecoa o que têm dito analistas como Piot Buras, do ECRF, ou Maciej Kisilowski, da Universidade Centro-Europeia.

E ainda que o novo governo tenha prometido desmantelar toda a estrutura montada pelo PiS para controlar o país, incluindo ataques à independência judicial que fazem com que a verba do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) esteja bloqueada por Bruxelas, esta não será uma tarefa fácil. Para o fazer, poderá ter de levar a cabo medidas no limite da legalidade, apontam alguns analistas.

Há também a força de oposição e bloqueio que o PiS será enquanto oposição. É certo que se espera, no plano internacional, uma Polónia com uma atitude positiva e construtiva em relação aos seus aliados (o PiS voltou a acenar com o tema de indemnizações da Alemanha durante a campanha) e também na União Europeia. Mas o partido, de cariz autoritário, como o classifica Maciej Kisilowski, continuará a ter influência e potencialmente extremar o debate.

Actualizado às 14h40, com a correcção do nome da força política liderada por Donald Tusk: Plataforma Cívica e não Coligação Cívica

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