Jornalistas portugueses em risco de “burnout”
Autores do estudo consideram que o jornalismo nacional é caracterizado pela “precariedade laboral, insegurança material e risco estrutural”.
Uma grande parte dos jornalistas portugueses considera ter níveis elevados de esgotamento (48%) ou valores de exaustão emocional entre o muito e extremamente elevado (18%). Junte-se a isto os baixos salários, receios quanto à sua situação precária e dificuldade em conciliar a vida pessoal com a profissional e a conclusão é esta: “A soma de tudo isto coloca os jornalistas em ‘burnout’ ou risco de ‘burnout’”.
Estes são alguns dos resultados do Inquérito Nacional às Condições de Vida e de Trabalho dos Jornalistas em Portugal, realizado pelo Sindicato dos Jornalistas, a Casa da Imprensa e a Associação Portuguesa de Imprensa, com o apoio da Federação Europeia dos Jornalistas. As conclusões, fruto da análise de 866 respostas recebidas, serão apresentadas esta segunda-feira, na sede da Casa da Imprensa, em Lisboa.
No comunicado que antecipa algumas delas, salienta-se que as respostas apontam para uma profissão caracterizada pela “sobrecarga laboral, conflitos éticos, degradação da qualidade de trabalho, dificuldade de conciliação entre a vida profissional e a vida familiar, salários baixos”.
Tudo assente nas respostas recolhidas que indicam, por exemplo, que apesar de 80% dos inquiridos terem formação superior, o salário médio líquido dos jornalistas no activo não vai além dos 1225 euros, e também que esta é a carreira de todas as que foram analisadas até hoje pelo Observatório para as Condições de Vida e Trabalho em que o número de filhos por profissional é mais baixo – a média não vai além de 1,04 (abaixo da média nacional de 1,38 filhos por mulher) e 40% não têm filhos.
Do inquérito, realizado em Abril e Maio de 2022, conclui-se ainda que 36% consideram que o salário auferido condiciona a prática profissional; 54% estão “inquietos” com a precarização actual da produção jornalística; 59% nunca teve formação complementar; 50% trabalha mais de 40 horas semanais; 52% foram bloqueados no acesso às fontes por autoridades do Estado, mercado ou sociedade civil; um terço considera que há um “desequilíbrio ruinoso” entre a vida pessoal e profissional; e 15,1% diz ter sido alvo de assédio moral, quase sempre (93%) por parte das chefias e/ou patrões.
A equipa de investigadores do Observatório para as Condições de Vida e Trabalho — Associação Científica, que trabalhou os dados recolhidos, considera que o jornalismo nacional é caracterizado pela “precariedade laboral, insegurança material e risco estrutural”, o que classifica como “uma tríade que coloca em causa a independência e a autonomia do trabalho, bem como a responsabilidade da profissão para com a sociedade civil”. A equipa é coordenada por Raquel Varela e Roberto della Santa, investigador integrado do Centro de Estudos Globais (CeG-UAb).