Com novas linhas, Metro do Porto quer chegar a 150 milhões de clientes anuais nesta década
Quatro novas linhas têm investimento previsto de 1000 milhões de euros, apontou António Costa na cerimónia de lançamento de novas linhas em Gondomar, Maia, Trofa e São Mamede
Quatro linhas, 38 estações e 37 quilómetros com um investimento previsto de “mais de mil milhões de euros”. A Metro do Porto apresentou esta sexta-feira as novas linhas da Trofa, Gondomar, Maia e São Mamede, numa cerimónia com o primeiro-ministro, António Costa, o ministro do Ambiente e Acção Climática, Duarte Cordeiro, e vários autarcas da região. E onde o elogio do transporte colectivo e a crise climática marcaram os discursos.
O momento ainda não era da celebração mais esperada, quando os veículos começarem a circular. Mas tinha a simbologia de marcar o início de algo: “Estamos hoje mesmo a começar aquilo que daqui a seis anos estará pronto e a funcionar”, apontou António Costa.
Ainda que não haja “varinha mágica” que faça a obra aparecer feita, o primeiro-ministro não evitou a palavra “urgência”. Se as cidades demoraram “50 anos a adaptar-se ao automóvel”, disse, têm agora “muito menos tempo” para se desabituar dele. O transporte colectivo, continuou, é arma fundamental para “reduzir os gases com efeito de estufa que resultam da mobilidade”, que representam 70% do total dos gases.
As novas linhas – que seguem agora para concurso público internacional para a elaboração dos anteprojectos – serão as Gondomar II (a ligar o Estádio do Dragão ao Souto), Maia II (Roberto Frias-Parque Maia-Aeroporto), São Mamede (IPO-Estádio do Mar) e Trofa (Ismai-Muro-Trofa).
Financiamento para duas linhas
Para já, só Gondomar e Trofa têm investimento garantido. Mas Tiago Braga, presidente do conselho de administração da Metro do Porto, não mostrou preocupação com o assunto e avançou que irá adoptar a mesma estratégia dos últimos anos: “Usar a maturidade dos projectos para ir atrás dos recursos financeiros.”
Certo é que a Metro do Porto acredita no potencial destas linhas, com as quais espera alcançar, até ao final desta década, os 150 milhões de clientes. No ano de 2023, ainda sem acrescentar rede, a empresa conta chegar aos 80 milhões, o que ficará 10% acima do recorde conseguido antes da pandemia, em 2019.
A Metro tem, neste momento, oito operações em curso, apontou Tiago Braga, resumindo o quadro dos próximos anos: em Abril de 2024 deverá arrancar a operação da Linha Amarela; até ao final do primeiro semestre de 2024 estará concluída a primeira fase da BRT da Boavista (concurso da segunda fase avança dentro de semanas e obra deverá ficar pronta até ao fim do próximo ano); no primeiro trimestre de 2025 deve ficar concluída a Linha Rosa (São Bento-Casa da Música); no final de 2026 a Linha Rubi (Santo Ovídio-Casa da Música).
Já em 2028 deverá haver linha na Trofa (que será em metro ligeiro entre o Ismai e a estação de Muro e seguirá depois em metrobus até Paradela) e em 2029 é a vez de Gondomar ter a extensão da linha há muito pedida.
Para as duas linhas sem financiamento garantido é mais difícil apresentar previsões. Mas Tiago Braga mostrou-se esperançado de que se concluam ainda nesta década: “Podem acontecer também até 2030”, respondeu aos jornalistas no final da cerimónia em Gondomar.
A forma como será concretizada a linha da Maia – se em metro ligeiro ou metrobus – é ainda uma “incógnita”: “Vamos estudar as duas possibilidades e depois escolher”, disse, sublinhando qu, caso seja escolhido o metrobus, este pode sempre evoluir, mais tarde, para metro ligeiro.
A extensão da rede de metro responde a desafios diferentes da primeira fase deste transporte e privilegia “uma lógica mais circular, mais em anel, com uma estrutura verdadeiramente em rede”, apontou.
Na Área Metropolitana do Porto, o transporte individual ainda é utilizado por 75% dos cidadãos, recordou o responsável da Metro do Porto para dar dimensão ao duplo desafio da empresa: o de “mitigar um dos problemas mais graves com que as cidades se confrontam actualmente, que é o congestionamento”, e ainda contribuir para a descarbonização. As oito operações (quatro em curso e quatro agora lançadas) “significam uma redução potencial de mais de 100 mil toneladas de CO2".
Foi nesse sentido o discurso do ministro Duarte Cordeiro, para quem os “transportes colectivos mais acessíveis e de maior qualidade são uma necessidade imperiosa”. “Precisamos de alargar o recurso a veículos sem emissões, à utilização de bicicletas, ou aumentar a deslocação a pé”, concluiu.
António Costa fechou o seu discurso com uma “palavra especial” para o presidente da Câmara do Porto, também presente na cerimónia. Recordando o dia em que, ainda à frente da autarquia lisboeta, assinou com Rui Moreira uma “declaração conjunta” contra a privatização dos metros de Lisboa e Porto e também da Carris e STCP, defendendo uma municipalização dos autocarros e ainda uma descentralização para os municípios e áreas metropolitanas da autoridade metropolitana do transporte, o primeiro-ministro fez o balanço: “A gestão pública permitiu melhorar a qualidade do transporte público.”