Facções rivais no Partido Republicano prolongam bloqueio na Câmara dos Representantes

Maioria dos congressistas republicanos escolheu Steve Scalise para suceder a Kevin McCarthy na liderança da câmara baixa do Congresso dos EUA. Oposição interna força adiamento da eleição geral.

Foto
Scalise, de 58 anos, era o n.º 2 do anterior líder da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy EPA/MICHAEL REYNOLDS
Ouça este artigo
00:00
04:06

O congressista norte-americano Steve Scalise, um conservador que votou contra a certificação da vitória de Joe Biden na eleição presidencial de 2020, foi escolhido pela bancada do Partido Republicano, nesta quarta-feira, para ser candidato a líder da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.

Se triunfar na eleição geral, que deverá realizar-se na quinta-feira, será ele a preencher o lugar que ficou vago na semana passada com a saída do também republicano Kevin McCarthy, afastado numa moção de censura convocada pela ala mais radical dos republicanos no Congresso dos EUA.

A falta de uma liderança eleita na Câmara dos Representantes norte-americana — a primeira vez que isso acontece em 234 anos de história na sequência de uma moção de censura — é importante porque, segundo as regras da câmara, só o líder (o speaker, na designação original) tem poderes para pôr em marcha propostas legislativas, incluindo a já prometida assistência militar a Israel, um novo pacote financeiro para a Ucrânia e um acordo orçamental temporário que evite o encerramento, a partir de meados de Novembro, das várias agências e departamentos federais do país.

Depois de ter vencido uma eleição interna, nesta quarta-feira, contra um candidato republicano que era apoiado por Donald Trump (Jim Jordan, um fervoroso apoiante do ex-Presidente e fundador do grupo mais à direita na Câmara dos Representantes), Scalise terá de obter pelo menos 217 votos na eleição geral, com a participação dos congressistas de ambos os partidos.

O resultado da eleição interna (113 votos para Scalise e 99 para Jordan) indicou que Scalise teria muitas dificuldades para ser eleito numa primeira ronda, na eleição geral, se o partido insistisse numa votação ainda nesta quarta-feira; em Janeiro, McCarthy venceu a votação interna por 188-31 e só foi eleito speaker após 15 rondas de votação devido à forte oposição interna da ala mais radical.

Depois de a eleição geral ter sido agendada para as 20h desta quarta-feira (15h em Washington), o Partido Republicano decidiu suspender a sessão e adiar a votação para que os republicanos possam resolver as suas divergências à porta fechada — e para evitarem uma repetição da caótica eleição de Janeiro.

"Steve Scalise recebeu 113 votos. É uma maioria, mas como é que se convence os outros 100 a votarem nele?", questionou o congressista republicano Troy Nehls, um apoiante de Jordan, referindo-se à eleição geral. "O Steve Scalise é um tipo porreiro, mas ele só tem 51% da bancada do seu lado."

Como é habitual numa eleição para speaker da Câmara dos Representantes dos EUA, cada um dos partidos designa um candidato — no caso do Partido Democrata, que está em minoria, o candidato é Hakeem Jeffries, o líder da sua bancada.

Numa situação normal, o candidato do partido que está em maioria não teria grandes dificuldades para triunfar (nos últimos 100 anos, McCarthy foi o único a não ser eleito à primeira volta); só que o actual equilíbrio de forças entre os dois partidos (221-212, uma vantagem curta para os republicanos) obriga Scalise a manter a sua bancada unida, já que nenhum congressista do Partido Democrata irá votar nele.

O problema para o republicano é que a sua bancada está dividida entre um bloco maioritário que o apoia; um grupo mais à direita, que insiste em votar em Jordan na eleição geral; e um outro grupo que ainda não ultrapassou os acontecimentos da semana passada e que admite votar em McCarthy.

Tanto Scalise como Jordan fazem parte da ala mais conservadora do Partido Republicano, estando ambos à direita de McCarthy. Todos eles votaram contra a certificação da vitória de Biden na eleição de 2020, durante a cerimónia no Capitólio que foi interrompida por uma invasão de apoiantes de Trump, a 6 de Janeiro de 2021.

Num primeiro momento após a invasão do Capitólio, McCarthy — então líder da minoria na Câmara dos Representantes — acusou Trump de ser o responsável pelo ataque, antes de se ter reaproximado do ex-Presidente dos EUA poucas semanas depois.

Durante os nove meses em que foi speaker, desde Janeiro até à semana passada, tornou-se num alvo a abater pela ala mais radical do Partido Republicano, principalmente depois de ter feito acordos com a Casa Branca e com o Partido Democrata para um aumento do limite do endividamento do país, no Verão, e para evitar um encerramento das agências e departamentos federais devido à falta de um Orçamento para 2024, em Setembro — um acordo que terá de ser renovado até meados de Novembro.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários