Arte de bordar o crivo de freguesia de Barcelos é património nacional

Actividade na maioria desempenhada por mulheres, esta arte têxtil ganhou relevância a partir da segunda metade do século XX.

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Para a maioria das bordadeiras, o "saber fazer" foi-lhes transmitido no seio da própria família paulo pimenta
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A Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) aprovou a inscrição da Arte de Bordar o Crivo em São Miguel da Carreira, Barcelos, no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (INPCI), foi nesta terça-feira anunciado.

Em comunicado, a DGPC referiu que a inscrição foi aprovada por despacho de 19 de Setembro de 2023 da subdirectora do Património Cultural Rita Jerónimo, aguardando agora publicação em Diário da República.

A DGPC explica que o bordado de crivo é uma arte têxtil com particular expressão no sudeste do concelho de Barcelos, sobretudo na freguesia de São Miguel da Carreira, "sendo historicamente tributária dos antigos linhares que pontuavam os campos desta região, já que são de linho os panos sobre o qual é executado o crivo".

A arte adquiriu predominância a partir da segunda metade do século XIX, em paralelo com o bordado das Terras de Sousa e a renda de filé de Felgueiras, manifestações têxteis que apresentam algumas semelhanças estéticas e que são comercializadas "com grande abundância" em Guimarães, no Porto e na zona da Lixa.

"As bordadeiras de crivo são um elemento fundamental da memória colectiva e da história local das povoações do concelho de Barcelos, dado que este ofício têxtil ocupou uma boa parte das mulheres destas freguesias, de premeio com outras ocupações", acrescenta.

As próprias bordadeiras reconhecem-se como elos de uma cadeia de mulheres que, pelo menos desde o século XIX, têm vindo a manufacturar o crivo. A maior parte tinha já familiares mulheres que exerciam a actividade e o "saber fazer" foi-lhes transmitido no seio da própria família, tendo muitas começado a bordar em idades precoces.

Tradicionalmente, o bordado de crivo de São Miguel da Carreira é muito utilizado no têxtil para o lar, assim como em contexto religioso na decoração de toalhas de altar ou de baptismo.

Mais recentemente, têm-se tentado novas abordagens, ao aplicar o bordado de crivo em peças de vestuário.

No entanto, sublinha a DGPC, "a situação do bordado de crivo é bastante frágil, dada a diminuição do número de pessoas dedicadas a esta produção".

"Actualmente, apenas quatro bordadeiras de três unidades produtivas artesanais certificadas dominam todas as fases de produção do bordado de crivo", alerta.

Estas artesãs distribuem-se pelas freguesias de São Miguel da Carreira, Cambeses e São Martinho de Galegos, existindo algumas outras que trabalham apenas quando recebem encomendas.

Para inverter esta situação, a Câmara de Barcelos decidiu avançar para o processo de inscrição da "Arte de Bordar o Crivo em São Miguel da Carreira" no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, contribuindo assim para o estudo e registo desta prática e para a implementação de medidas de salvaguarda que garantam a sua viabilidade futura.