“Salvaguarda urgente”: moliceiros e carpintaria naval da ria de Aveiro já são Património Cultural Imaterial
Com inscrição no inventário, celebram-se as artes do moliceiro, que estão em risco. Só há cinco mestres construtores e um pintor, não há aprendizes. Mas há planos para salvar o futuro.
A Direcção-Geral do Património Cultural, ressalvando a "necessidade de salvaguarda urgente", inscreveu no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial o barco moliceiro e a arte da carpintaria naval da região de Aveiro.
A inscrição foi confirmada com despacho publicado esta quinta-feira em Diário da República.
"A construção do Barco Moliceiro insere-se na tradição da arte de construção naval tradicional" da região de Aveiro, expõe aquela direcção-geral. "Este tipo de embarcação foi inicialmente criado e utilizado para a apanha do moliço, uma das mais importantes actividades económicas que a região conheceu durante várias décadas", refere-se.
"A necessidade de salvaguarda urgente a este saber-fazer", informam em comunicado, prende-se com o facto de, actualmente, ser "apenas praticado de forma regular por cinco mestres construtores e por um pintor de moliceiros" – estes estão nos concelhos de Estarreja e Murtosa. O grande problema para o futuro desta arte: não se tem "conseguido atrair novos aprendizes nos anos mais recentes".
A inscrição, feita sob proposta do Departamento de Museus, Monumentos e Palácios da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), parte do "pedido de registo do referido saber-fazer" submetido em Março pela Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro, que "desenvolveu trabalho de investigação para aprofundar o conhecimento desta arte e elaborou um Plano Estratégico de Salvaguarda a 10 anos (2022-2032)".
É um passo "essencial e exigido pela DGPC" para a inclusão e que tem por objectivo "dinamizar e estruturar o processo de salvaguarda desta manifestação cultural, tão relevante para a identidade e o desenvolvimento desta região".
O plano "envolve o compromisso dos vários municípios que compõem a comunidade intermunicipal" e integra "uma série de iniciativas em articulação com a comunidade escolar e com o ensino profissional", uma "proposta de desburocratização dos processos de licenciamento" e a "criação de um regime excepcional para estas embarcações" que "tornem mais atractivas as condições para a sua produção e aquisição".
O moliceiro terá adquirido as formas actuais "nos finais do século XVIII, tendo depois observado, nos séculos XIX e XX, um grande crescimento no número de embarcações", resume-se. "Uma arte de construção artesanal de processos simples" mas a que se associam "um conjunto de técnicas, ferramentas e saberes imateriais", que são "transmitidos entre gerações (não apenas dentro das mesmas famílias)": o conhecimento passa de mestres para aprendizes. Mas, sem aprendizes, há um futuro em "risco".
O "declínio no número de embarcações" deve-se ao "abandono da prática da apanha do moliço". Hoje em dia, o Barco Moliceiro, além de ícone da região e da ria, é basicamente "utilizado para a actividade turística", uma "transição que permitiu evitar a sua perda". Nos últimos anos têm-se criado novos moliceiros, com base na preservação e nos projectos turísticos, científicos e recreativos. Mas, ainda assim, sublinha-se, "tem sido difícil captar novos profissionais que possam assegurar de forma continuada esta arte".
Todo o processo e informação sobre a inscrição do "Barco Moliceiro: Arte da Carpintaria Naval da Região de Aveiro" no inventário nacional está já disponível no site dedicado ao Património Cultural Imaterial Português.
Depois desta inscrição, avança-se para o passo seguinte, a meta mais desejada: a inscrição como Património da Humanidade pela UNESCO.
Esta quinta-feira, foi também publicada em Diário da República o despacho de inscrição das Festas Antoninas.