PSP detém 12 activistas climáticos por “prevenção”. Climáximo diz que é “ilegal”
Doze pessoas do Climáximo que iam fazer um novo protesto contra a crise climática foram detidas e constituídas arguidas pela PSP para “prevenir” um “acto ilícito”.
Um grupo de 12 pessoas do Climáximo foi identificado e detido este domingo pela PSP, quando se preparava para fazer um protesto em Cascais, tendo os activistas sido constituídos arguidos e libertados ao final da manhã. O Climáximo alega que os activistas estão a ser investigados pela prática de “desobediência qualificada” e denuncia que a acção da polícia foi “ilegal”. A PSP explica que identificou os activistas devido ao seu “mediatismo” e que agiu para “prevenir” a “prática de qualquer acto ilícito”.
Ao PÚBLICO, o oficial de serviço do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP confirma que “de manhã foram interceptados 12 indivíduos junto ao Hipódromo de Cascais” que “tinham tarjas e tintas” e se “preparavam para cometer um ilícito”. “Foram conduzidos à esquadra, identificados, constituídos arguidos e foi elaborado um auto de notícia”, explica.
Segundo o oficial de serviço, a PSP “interveio antes da prática de qualquer acto ilícito”, numa “perspectiva de prevenção”. Os agentes “anteciparam-se e conseguiram prevenir que fosse cometido um crime”, justifica, considerando que “é preferível actuar antes do que depois”.
O Climáximo denunciou a situação logo de manhã. De acordo com o grupo, os activistas planeavam fazer uma “manifestação pacífica” junto ao local de arranque da maratona da EDP, no Hipódromo de Cascais, mas por volta das 8h, quando estavam a “conversar”, foram levados pela PSP, “sem motivo aparente”, para a Divisão Policial de Cascais.
Ao PÚBLICO, o assessor do grupo, Hugo Fonseca, diz tratar-se de um “atentado aos artigos 45.º e 46.º da Constituição”, que consagram o “direito de reunião e de manifestação” e a “liberdade de associação”.
Uma das activistas que foram detidas, Maria Mesquita, conta que os membros do Climáximo estavam “simplesmente reunidos e a falar” quando foram “abordados por dez agentes à paisana” com o equipamento oficial da corrida que os “identificaram no local”, os “revistaram” e “levaram para a esquadra”.
Isto “sem nunca se identificarem, nem darem nenhum enquadramento legal para nos revistar e levar”. “Pedimos várias vezes que nos dessem essas informações e recusaram-nas”, acusa, acrescentando que a “detenção preventiva” da PSP é “ilegal”.
O mesmo terá acontecido durante as “cinco horas” em que estiveram detidos “sem informação”. Apenas uma activista, menor de 16 anos, saiu ainda de manhã, acompanhada pelos pais. Os apoiantes do Climáximo acabaram por ser libertados por volta das 12h, altura em que os agentes os informaram de que foram constituídos arguidos por “desobediência qualificada”, segundo Maria Mesquita. “É absurdo porque em momento algum desobedecemos. Colaborámos sempre”, garante.
A polícia não confirma que os activistas estão a ser investigados por desobediência qualificada, mencionando que existem “outras situações”.
Faixas e T-shirts com mensagens políticas
De acordo com a também porta-voz da acção de protesto que o Climáximo pretendia fazer, os agentes da PSP disseram apenas que o grupo estava “com um comportamento estranho”. Quando os revistaram, encontraram nas mochilas “faixas, T-shirts com mensagens políticas que identificavam o Climáximo, e tintas”.
“Tínhamos material, mas não estávamos a engajar em qualquer tipo de manifestação. Íamos fazer uma manifestação pacífica, mas decidiram que estávamos a cometer um crime por estarmos na posse de mensagens políticas”, afirma.
O Climáximo não havia convocado qualquer manifestação, por isso a PSP não tinha sido previamente informada de que os activistas iriam estar no local. Maria Mesquita admite que a polícia tenha “cuidados especiais” na maratona da EDP, mas sublinha que “não se deixa iludir”: “Sabemos que estivemos a interromper a normalidade durante uma semana e certamente estariam atentos a um evento da EDP, que é uma das principais responsáveis pelo genocídio que estamos a viver”, diz.
Algumas das pessoas que foram detidas participaram em acções recentes do Climáximo que, ainda esta semana, parou o trânsito da Segunda Circular e da Rua de São Bento, bloqueou a Avenida de Roma e atirou tinta e estilhaçou o vidro da fachada da sede da REN. Também nesses momentos foram identificadas e detidas.
Ao PÚBLICO, o oficial de serviço do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP admite que as activistas “foram rapidamente identificadas” por a sua “imagem ter corrido a televisão algumas vezes”. “São conhecidas por terem algum mediatismo”, explica, justificando ainda que “se faziam acompanhar” dos materiais do protesto.
Sobre o protesto que o Climáximo queria levar a cabo, Maria Mesquita indica que não se tratava apenas de um protesto contra a EDP, mas que “todas as acções” que estão a desenvolver “estão enquadradas numa narrativa clara de que não estamos a viver a normalidade, estamos a viver uma guerra” e a “sociedade não pode compactuar com este genocídio”.
A ideia do grupo é “interromper a normalidade” para “abrir o debate público” e os activistas já não querem “falar com as empresas e o Governo” que “decidiram continuar e expandir desenfreadamente a industria fóssil“. “Estamos a falar com a sociedade”, diz.
Notícia actualizada às 14h15 com novo título e declarações