Deixou de ser um sonho: Portugal ganhou no Mundial

Com um ensaio no último minuto, a selecção portuguesa derrotou Fiji, por 24-23, e fez história no Campeonato do Mundo de râguebi.

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Reuters/STEPHANIE LECOCQ

Ser a selecção revelação, a que todos os adeptos a nível internacional admiravam pela qualidade com que jogava, já era pouco. Neste domingo, em Toulouse, era preciso mais. E tinha de ser assim: de forma dramática – tal como tinha sido conquistado o apuramento para o Campeonato do Mundo -, com um ensaio (e a transformação) quase no último suspiro. O que para muitos era um sonho, mas que dentro do campo já era merecido, aconteceu mesmo: Portugal derrotou Fiji (24-23) e despediu-se do Mundial 2023 com uma vitória histórica.

Depois de jogar olhos nos olhos com o País de Gales e a Austrália, e de deixar fugir o triunfo contra a Geórgia no último pontapé, no quarto e último jogo de Portugal no Mundial 2023 Patrice Lagisquet deixou de lado qualquer gestão de equipa. Mesmo tendo quatro jogadores sem qualquer minuto na competição, o técnico francês deixou de fora dos 23 convocados António Santos, Manuel Picão e Simão Bento - Duarte Torgal foi para o banco -, recuperando a fórmula inicial dos dois primeiros jogos. As novidades eram José Lima e Pedro Bettencourt a centros (o capitão Tomás Appleton foi para o banco), e Manuel Cardoso Pinto a “15”, no lugar do lesionado Nuno Sousa Guedes.

A aposta naquele que Lagisquet considerava ser o “XV” mais forte, foi assumida pelo antigo internacional gaulês: “Manter a linha e mentalidade” de uma equipa que “demonstrou uma capacidade tão grande de competir contra qualquer adversário.” E, tendo do outro lado o oitavo do ranking mundial, que somava duas vitórias, tinha perdido de forma injusta com o País de Gales e que precisava de pontuar para fazer história - afastar pela primeira vez a Austrália na fase de grupos -, Portugal fez o que sempre fizera no Mundial 2023: não teve medo do nome do adversário, demonstrou enorme qualidade e, desta vez, não se ficou pelo quase. Desta vez, a merecida vitória não fugiu entre os dedos.

O jogo é simples de resumir. Como tinha feito contra dois dos pesos-pesados do râguebi mundial (País de Gales e Austrália), Portugal entrou a querer ter o controlo. E conseguiu-o. Sempre melhor – Fiji entrou pela primeira vez na área de 22 metros portuguesa aos 26’ -, apenas por erros próprios no ataque os “lobos” não chegaram ao intervalo a vencer (3-3).

Porém, o merecido ensaio português chegou com o “râguebi champagne”: Pedro Bettencourt assistiu Storti ao pé e o ponta fez o terceiro ensaio em França. Quase de seguida, Portugal ameaçou o segundo, mas um mau passe de Nicolas Martins criou a oportunidade de que os fijianos gostam: com a defesa nacional desorganizada, Fiji colocou-se a um metro da linha de ensaio, e, com a plataforma de ataque criada, Botia marcou.

Todavia, no minuto seguinte, o experiente terceira-linha dos “flying fijians” atingiu Rodrigo Marta na cabeça com uma placagem alta, levando amarelo. Com Fiji reduzida a 14, Portugal fez o que fazem as grandes equipas: não desperdiçou a oportunidade. Após um alinhamento, Francisco Fernandes fez o segundo ensaio de Portugal.

A perder por 10-17, Fiji estava à beira do abismo – uma derrota por mais de sete pontos deixava a selecção do Pacífico fora do Mundial. E reagiu. A partir dos 51 minutos, os fijianos empurraram Portugal para dentro da sua área de 22 e, apesar de os “lobos” terem sempre defendido bem, Mesake Doge, aos 68’, fez o ensaio.

Seguiram-se duas penalidades de Frank Lomani que, a seis minutos do fim, deixavam os portugueses com seis pontos de desvantagem. Porém, este Mundial não podia acabar sem um ensaio de Marta. Com menos de um minuto para jogar, o melhor marcador de ensaios da história de Portugal fez o terceiro toque de meta dos "lobos". Faltavam 40 segundos, dois pontos e o peso da história ficava no pé direito de Samuel Marques. E o formação não tremeu.

Deixou de ser um sonho: Portugal ganhou no Mundial.

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