Benfica venceu no Estoril, mas poderia bem não ter sido assim

O triunfo conseguido aos 90+3’, numa fase de “chuva” para a área, pode ter lógica pelas oportunidades criadas, mas, em rigor, poderia bem não ter sido assim – e poucos estranhariam um empate.

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Estoril e Benfica em duelo na Amoreira LUSA/RODRIGO ANTUNES

Não é muito comum dizer-se que há lógica quando um dos “grandes” perde pontos com uma equipa mais frágil. Geralmente, é mais por ineficácia a finalizar os vários lances de perigo habitualmente criados do que por falta de engenho ofensivo a inventá-los. Mas o Benfica fez por negar essa premissa e poderia ter sofrido com isso.

Neste sábado, na visita ao Estoril, saiu com um triunfo (1-0) que até pode ter lógica por algumas oportunidades criadas, mas, em rigor, poderia (e porventura deveria) não ter sido assim – e poucos estranhariam um mero empate.

Os “encarnados” não só criaram pouco como permitiram ao Estoril criar bastante. Porque se é verdade que o Estoril não criou muito perigo em remates à baliza, também é verdade que teve várias transições de superioridade numérica que deixaram o Benfica de respiração cortada.

Mas o Benfica tem o mérito de, no momento de desespero dos últimos minutos, usar um lance de bola parada para, na confusão, ter finalização de sucesso de António Silva, que ainda foi herói a evitar o empate no último minuto.

Estoril rima com funil

A primeira parte na Amoreira pode ser traduzida pela caricatura de um grupo de ladrões que sabem que têm um cofre aberto, mas que recusam entrar na sala do cofre, sem se perceber o motivo desse receio.

É que Vasco Seabra disse, antes do jogo, que ia tentar bloquear o jogo interior do Benfica – e aí estava uma bela indicação para Roger Schmidt. E uma análise rápida ao Estoril dizia que é a segunda equipa com mais recuperações no último terço e também a segunda que mais passes longos permite aos adversários, dois traços que indicavam de forma clara ser uma equipa que usa um bloco bem subido – outra bela sugestão para Schmidt.

Apesar de saber isso tudo – ou de ter condições para saber –, o Benfica agiu como se não soubesse, como os ladrões com o cofre aberto. O Estoril cumpriu o que Seabra prometeu e montou um bloco de 5x3x2 em funil, sobrepovoando a zona central do terreno.

O que fez o Benfica? Insistir no jogo interior, mesmo quando o bloco do Estoril, a jogar em 30 metros, bem junto, não dava espaço entre linhas. Aursnes e Jurasek não ajudaram a “esticar” o Estoril no campo e o Benfica não explorou a largura. E também não fez questão de usar a profundidade durante largos minutos.

Fê-lo três vezes: aos 24’, com remate de Tengstedt ao lado, aos 32’, com novo movimento de Tengstedt e remate de Neres defendido por Carné e aos 40’, com outro remate torto de Tengstedt. O “ouro” estava ali, mas o Benfica só o quis três vezes em 45 minutos de futebol.

Era curioso que o Benfica tinha um pé direito à direita (João Mário) e um pé esquerdo à esquerda (Neres), o que poderia permitir não afunilar tanto o jogo e explorar mais a ala. Mas a realidade foi outra: “sem pé” do lado interior, os alas do Benfica raramente conseguiram virar-se de frente para o jogo e colocarem bolas no espaço. E dada a incapacidade de criar futebol ofensivo, experimentar uma troca nos alas poderia ter feito sentido – pior do que estava dificilmente ficaria.

Inércia de quem via de fora

Mas não se pode ignorar o que fez ofensivamente o Estoril, que levou o se esperava: recuperações em zona adiantada, embora quase sempre mal definidas: foram cinco lances desse tipo, número que prova que não era uma equipa preocupada apenas em defender, sabendo das deficiências “encarnadas” na transição defensiva.

Aos 54’, Guitane voltou a ter espaço para correr – foi quase sempre ele a conduzir as tais transições da primeira parte – e libertou Rodrigo Gomes, que assistiu Heriberto para um remate ao poste.

O Benfica criou perigo logo a seguir, numa recarga a um remate de Otamendi de fora da área, mas o nível de jogo continuava sofrível.

Ainda houve um penálti assinalado a favor do Benfica, revertido com ajuda do VAR, mas essa seria uma oportunidade flagrante de golo que daria, provavelmente, alguma injustiça a um resultado que se ajustava pelo empate – e Guitane, logo a seguir, tratou de o assinalar, com mais uma oportunidade perdida.

Apesar de não estar a conseguir criar lances de perigo e de estar a sofrer na defesa, nada se passou no banco do Benfica até aos 70 minutos.

E o espaço que havia na primeira parte – o tal que o Benfica desdenhou – deixou de haver na segunda, com o natural recuo de uma equipa que sentia que o pontinho estava ali à distância de 15/20 minutos de defesa concentrada.

O Benfica, já com mais atacantes em campo, começou a fazer chover bolas na área e acabou por chegar ao golo numa bola parada de luta na área que deu golo de António Silva.

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