Não celebrar o 25 de Novembro? “Mário Soares nunca tal permitiria”, garante Ana Gomes

A antiga eurodeputada do PS, Ana Gomes, diz que “lamentavelmente, parece” que o PS cedeu ao PCP na questão das comemorações do 25 de Novembro.

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A antiga eurodeputada socialista Ana Gomes Daniel Rocha

O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, anunciou esta semana o programa das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, mas alguns marcos e datas, como o cerco à Assembleia Constituinte e o 25 de Novembro de 1975, não figuram, para já, no programa previsto.

Na segunda-feira, Santos Silva explicou aos jornalistas que “há vários marcos à margem da comissão organizadora [parlamentar] das comemorações a serem apreciados pela conferência de líderes, e em articulação com os vários órgãos de soberania”.

A questão da comemoração do 25 de Novembro também foi polémica no seio da comissão organizadora das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. O primeiro coordenador da comissão, o antigo Presidente da República general Ramalho Eanes, que desempenhou um papel importante nos próprios acontecimentos do 25 de Novembro, já havia dito que “momentos fracturantes não se comemoram, recordam-se”.

A socialista Ana Gomes defende que "cabia ao PS ser fiel ao seu próprio legado histórico".

Como viu a decisão da Assembleia da República de não assinalar os 50 anos do 25 de Novembro?
Com desagradável surpresa. É inaceitável o argumento da consensualidade desejável. Nesta matéria nunca existiria e cabia ao PS ser fiel ao seu próprio legado histórico.

Ao fim destas décadas, o PS tem dificuldades em olhar e reflectir sobre o 25 de Novembro? Mas nem sempre foi assim.
Assim parece, lamentavelmente. Estou convencida de que o dr. Mário Soares nunca tal permitiria…

Acha que o PS teve esta posição agora na AR porque cedeu ao PCP?
Evidentemente. E o PCP nunca abandonou aquela tese de que a URSS era o sol da Terra como o prova a sua posição relativamente à guerra na Ucrânia. O que ainda torna mais inaceitável a cedência do PS…

Augusto Santos Silva, enquanto presidente da Assembleia da República (PAR), entrou em contradição com o que defendera no passado?
Não sei o que o PAR defendeu no passado. E que passado, mais recente ou remoto: não sei mesmo onde estava no 25 de Novembro. Eu cá, estava lá, como no 25 de Abril , e por isso reajo: militava então no MRPP, e estava com o general Ramalho Eanes e, claramente, ao lado do PS de Mário Soares. Pela democracia, contra as forças totalitárias.

O que lhe pareceu a iniciativa de Carlos Moedas de ser a Câmara de Lisboa a assinalar a data?
Agarrou logo a oportunidade que o PS lhe deu. Para mim, é indissociável celebrar um e outro.

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