5 de Outubro e 25 de Novembro
Se o 5 de Outubro é uma data cada vez mais distante, aberta a várias leituras que a partir dela se quiser fazer, o 25 de Novembro de 1975 é ainda uma data polémica.
Na Praça do Município, em Lisboa, as palavras celebravam a instauração da República, mas podiam ter sido proferidas em Granada, onde 50 chefes de Estado se reuniram para encontrar novas definições para uma Europa que necessita de se reinventar, perante o desafio que representam as alterações geopolíticas trazidas pela invasão russa da Ucrânia.
“Podemos fazer Europas mais fortes se não formos egoístas ou retardatários. Podemos fazer organizações universais mais fortes, se não nos habituarmos a prometer, ano após ano, a sua reforma, sabendo que não vamos cumprir”, disse Marcelo Rebelo de Sousa no seu discurso de 5 de Outubro. “Agora mais do que nunca, a União Europeia tem de se posicionar, com uma abordagem assente na acção colectiva. Quanto mais unidos estivermos, mais fortes e donos do nosso destino seremos”, escreveu hoje no PÚBLICO Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, na antevisão do encontro de Granada.
Quem esperava mais um momento de política doméstica, pela ocasião de um encontro entre Presidente e primeiro-ministro, teve de Marcelo uma lição de história com forte apelo à acção no presente, num discurso inclusivo, preocupado com o radicalismo e com a insatisfação de vários sectores, particularmente dos jovens, falando para um mundo que deve abraçar “a mudança inevitável”.
Se o 5 de Outubro é uma data cada vez mais distante, aberta a várias leituras que a partir dela se quiserem fazer, o 25 de Novembro de 1975 é ainda uma data polémica, e foi directo à polémica doméstica o outro discurso da cerimónia, o do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, que anunciou a intenção da autarquia de comemorar a ocasião.
É bom que o 25 de Novembro seja lembrado pelo momento decisivo que foi para a consolidação da democracia em Portugal, por muito que isso não agrade uma certa esquerda, e será lamentável se o Parlamento não o fizer pela ocasião do seu 50.º aniversário. Mas é pena que continue a ser usado por sectores da direita em contraposição ao 25 de Abril ou de forma instrumental para separar o “nós” do “eles”, quando os tempos precisam muito mais de pontos de convergência do que de linhas divisórias.
“Todas as datas são importantes”, disse Carlos Moedas, mas há algumas mais importantes do que outras e que conseguem representar muito melhor a “moderação e bom senso” a que também apelou. O 25 de Abril é seguramente a melhor delas todas. Recorde-se o 25 de Novembro pela reafirmação de democracia e liberdade que representou, mas olhemos mais para a mensagem de futuro do outro 25.