Ventura protesta sobre “agressões” a deputados na manifestação, discute com Santos Silva e abandona plenário

Líder do Chega tinha chamado cobarde a Santos Silva numa conferência de imprensa por este não ter defendido os deputados e disse que foram “convidados”. Organizadores da manifestação desmentem convite

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Os três deputados do Chega foram escoltados pela PSP para saírem da manifestação pela habitação, no sábado, em Lisboa. Nuno Ferreira Santos
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A promessa tinha ficado feita no dia anterior, quando André Ventura chamou os jornalistas para anunciar que vai fazer uma participação ao Ministério Público por três deputados do Chega terem sido agredidos e insultados na manifestação pelo direito à habitação. Nessa altura, disse que iria mostrar a Santos Silva "que, se é cobarde, não tem lugar enquanto presidente da Assembleia da República". Esta tarde, no início do plenário, o líder do Chega criticou Santos Silva por não ter saído em defesa dos deputados, mas não gostou da resposta do presidente e incentivou toda sua bancada a virar as costas e sair da sala.

É a segunda vez que os deputados do Chega abandonam o plenário em protesto contra Augusto Santos Silva. A gota de água terá sido parte da resposta do presidente da Assembleia que, sem citar a palavra cobarde, que Ventura lhe chamara na segunda-feira, afirmou: "Quanto à expressão com que o senhor deputado me mimoseou ontem numa conferência de imprensa e não teve a coragem de repetir aqui, quero apenas dizer-lhe que vossa excelência deve ter sempre em conta que, quando me vê, não se está a ver ao espelho."

André Ventura não gostou, levantou a voz, defendeu ser "tão deputado eleito" como Santos Silva e criticou o comentário do presidente que dissera que a presença do Chega na manifestação fora "uma provocação". "O senhor presidente, meu presidente já não é; desta bancada já não é; de uma uma parte do país já não é. E eu não o reconheço como presidente da Assembleia da República." Dizendo isto, Ventura mandou os seus deputados levantarem-se e, virando as costas, saíram da sala.

Voltando atrás: no arranque do plenário, Ventura pediu a palavra para se queixar que "vários deputados do Chega foram agredidos numa manifestação" e que o presidente do Parlamento ("de todos os deputados", frisou) "não teve uma única palavra de condenação para estes actos". O líder do Chega trazia uma citação de Santos Silva para o confrontar com a diferença de atitude que teve em relação aos episódios da tinta verde atirada ao ministro Duarte Cordeiro e da manifestação que interrompeu o lançamento de um livro com mensagem inclusiva: "A participação é o complemento da liberdade e, para sermos livres, é que nos devemos juntar para decidir colectivamente sobre questões comuns. Agredir pessoas, sejam elas quais forem, impedi-las de falar e de defender as suas opções, é sempre um acto condenável."

Ventura disse que o deputado Jorge Galveias, de 73 anos "foi pontapeado e esmurrado, a par com Filipe Melo e Rui Paulo Sousa". "Aquele que nos devia representar a todos ficou em silêncio perante ataques de forças políticas extremistas, sem respeito pelo pluralismo e pela representatividade democrática", apontou o líder do Chega. "É estranho que a tinta valha uma condenação, mas murros na cara, pontapés e o afastamento não mereçam essa condenação da sua parte", lamentou André Ventura, defendendo que Santos Silva deveria dizer que a "violência contra representantes do povo nunca, em caso algum, é aceitável".

"A violência é sempre condenável a violência exercida num regime democrático é ilegal, inaceitável e condenável", começou por dizer Augusto Santos Silva, lembrando que "todos" têm o direito de organizar manifestações e que ninguém pode ser impedido. E que até têm sido respeitadas as manifestações organizadas pelo Chega, sem que tenham sido incentivadas "provocações ou violência (...) mesmo quando se fazem à porta da sede de outros partidos políticos", numa alusão ao protesto convocado para o largo do Rato há uns meses.

Mas Santos Silva também defendeu ser necessário que as pessoas se abstenham de "actos de provocação" e de se "imiscuírem em protestos" cujas motivações e objectivos não são os seus.

O líder do Chega garantiu que os deputados foram "convidados" para participarem na manifestação pela habitação e a justiça climática. Porém, uma hora depois, a coordenadora da plataforma Casa para Viver veio desmenti-lo afirmando que o Chega não foi convidado e que as declarações "são a continuidade da provocação montada durante a manifestação" que, aliás foi convocada por princípios em relação aos quais "o Chega se tem manifestado contra repetidamente".

Notícia actualizada às 17h, com informação do desmentido sobre o convite ao Chega para participar no evento.

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