Porto
Esta casa na Boavista é abstracta como uma construção de areia
Junto à linha da rua, a estrutura de betão branco funciona como "invólucro" do interior. Na sala, há uma lareira abstracta inspirada nas pinturas do arquitecto e artista Jean Pierre Porcher.
Jean Pierre Porcher vive há tantos anos em Portugal que já nem sabe se é um arquitecto francês ou português. O Norte foi a região escolhida para projectar casas, piscinas municipais, hotéis e até escolas, e Braga a cidade-berço para a criação do gabinete Topos Atelier. E o que tem o Norte de tão interessante para o fazer ficar? “Encomendas”, responde, entre risos. E assim é desde 1986.
Na zona da Boavista, no Porto, projectou uma habitação junto à linha da estrada e com um amplo espaço verde nas traseiras. É a combinação entre os desejos dos proprietários que pretendiam “uma casa com muita privacidade e afastada do ruído da rua” e dos arquitectos que queriam manter o traçado urbanizado da cidade.
A Casa na Boavista, que começou a ser construída em 2019, caracteriza-se por três princípios: integração, simplicidade e qualidade construtiva conseguida através do betão, material robusto e texturado que resulta numa estética peculiar. “O betão à vista branco contrapõe-se ao caos que se vê na profusão de materiais à vista das cidades e cria um invólucro interior, um móvel, que pode ser adaptado e moldado em função das exigências dos clientes”, adianta Jean Pierre Porcher.
No interior, a madeira natural e pintada está presente em todas divisões, desde a sala e entrada com um pé direito alto, até aos quartos e escritório no piso superior. A escadaria, “que é iluminada verticalmente e atravessa toda a casa”, é um dos destaques. Na sala, a enorme lareira abstracta, inspirada nas pinturas do arquitecto e artista, é o elemento que preenche todo o espaço.
“Foi uma peça engraçada porque tivemos de a encher a partir de um tubo que ia até ao chão. Uma peça em betão deste tamanho é como fazer construções de balde na areia da praia. Em crianças ficávamos satisfeitos quando ficava direito e os arquitectos continuam a ser assim. Dá gozo fazer estas coisas.”
Para Jean Pierre, a arquitectura funciona como um conjunto no qual todos os elementos funcionam em sinergia. A Casa da Boavista representa tudo isso e inclui detalhes que, destaca, “não se vêem em todo o lado”.