Biden critica silêncio no Partido Republicano sobre “ideologia extremista” de Trump
Presidente dos Estados Unidos lança o mais forte ataque no último ano contra o seu antecessor e provável adversário em 2024: “As democracias não têm de morrer na ponta de uma espingarda.”
O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, interrompeu uma série de discursos centrados na promoção das políticas económicas da sua Administração para lançar um dos mais fortes ataques contra Donald Trump desde que chegou à Casa Branca.
Num discurso no estado do Arizona, na noite de quinta-feira, Biden disse que Trump lidera "um movimento extremista que não partilha as crenças básicas na democracia", e acusou a liderança do Partido Republicano de cumplicidade por se manter em silêncio.
"As democracias não têm de morrer na ponta de uma espingarda, mas podem morrer quando as pessoas ficam em silêncio, quando não se opõem nem condenam as ameaças à democracia", disse Biden em Tempe, no Arizona, onde anunciou um financiamento público para a construção de uma biblioteca em honra de John McCain — o ex-senador republicano que morreu em 2018 e que se destacou, nos últimos anos de vida, pela sua oposição a Donald Trump.
Desde que chegou à Casa Branca, em Janeiro de 2021, mas principalmente a partir do Verão de 2022, Biden tem pontuado as suas intervenções públicas com a promoção das políticas económicas da sua Administração — que terão, na sua opinião, contribuído de forma decisiva para a melhoria dos indicadores económicos dos EUA após a pandemia de covid-19.
Ao mesmo tempo, os índices de popularidade de Biden têm-se mantido em valores historicamente baixos, apenas comparáveis com os números de Trump na mesma fase da sua Presidência; e muitos dos seus apoiantes no Congresso, no Partido Democrata, têm indicado que preferiam vê-lo a ser mais incisivo nos ataques contra Trump, principalmente a sublinhar o que poderá estar em causa na eleição de 2024, para a democracia do país, se o ex-Presidente dos EUA for o seu adversário do Partido Republicano.
"Trump diz que a Constituição lhe dá — e cito — o direito a fazer o que ele bem entender como Presidente. Nunca ouvi nenhum Presidente a dizer isto, nem sequer em tom de brincadeira", disse Biden na noite de quinta-feira. "Ele não se guia pela Constituição, nem pelo bem comum ou pela decência, mas sim pela vingança."
Não é a primeira vez que Biden centra um discurso em Trump e nas ameaças à democracia dos EUA, mas é a primeira vez que o faz no último ano, um período em que o ex-Presidente dos EUA voltou a ocupar grande parte do espaço mediático com a sua candidatura à eleição de 2024, e com os vários processos judiciais em que está envolvido.
Ao marcar uma distinção entre o Partido Republicano e o movimento liderado e inspirado por Trump, Biden disse que "nem todos os republicanos — nem sequer a maioria — aderem à ideologia extremista MAGA" (a sigla de Make America Great Again).
"Eu sei isso porque consegui trabalhar com republicanos ao longo da minha carreira", disse o Presidente dos EUA, que foi eleito para o seu primeiro cargo político de âmbito nacional, o de senador do Delaware, em 1972.
No entanto, sublinhou Biden na noite de quinta-feira, "não há nenhuma dúvida de que o Partido Republicano actual é impulsionado e intimidado por extremistas republicanos MAGA, cuja agenda política alteraria as instituições da democracia americana tal como a conhecemos".
Na rede social X (o antigo Twitter), o historiador Michael Beschloss, especialista na história dos presidente dos EUA, chamou a atenção para a importância e o significado do discurso de Biden no Arizona: "O discurso que Biden acabou de fazer é o seu discurso mais importante, mais poderoso e mais eloquente sobre a importância crucial de se proteger a democracia americana. Vejam, ouçam, leiam."
Durante o discurso, Biden anunciou que uma pequena parte das verbas que sobraram do combate à covid-19 — cerca de 83 milhões de dólares (79 milhões de euros), segundo a Casa Branca — vão ser aplicadas na construção de uma biblioteca em honra de John McCain, que representou o Arizona como senador dos EUA entre 1987 até à sua morte, a 25 de Agosto de 2018.