Alceu Valença no palco, a unir as músicas “como se fosse o roteiro de um filme”
Cantor pernambucano está de volta, com mais seis músicos, para um espectáculo “meio teatral”: Alceu Dispor. Esta sexta-feira na Figueira da Foz, dia 30 no Porto e dia 4 no Casino Estoril.
Nos últimos anos, o cantor e compositor pernambucano Alceu Valença tem sido presença assídua em palcos portugueses, apesar do hiato ditado pela pandemia. Actuou em 2105 com a Orquestra Ouro Preto, de Minas Gerais, com ela regressando em Janeiro de 2020, meses antes de a covid-19 impor um confinamento geral. Mas logo que pôde, regressou, dessa vez só voz e violão, para sete espectáculos no início de 2022.
Agora, em tournée europeia, Alceu volta a actuar em Portugal, acompanhado por seis outros músicos, trazendo na bagagem um espectáculo já estreado no Brasil: Alceu Dispor. Um nome que, diz ele ao PÚBLICO nas vésperas dos espectáculos, tem uma intenção clara: “Alceu Dispor significa que estou ao dispor de todas as pessoas para um show, ao dispor do público”. Começa esta sexta-feira na Figueira da Foz (Casino, 22h), seguindo-se o Porto (dia 30, Hard Club, 21h30) e Lisboa (dia 4 de Outubro no Casino Estoril, 21h30).
A par dos palcos, Alceu Valença tornou-se ainda um recordista de gravações. Só no período que sucedeu à pandemia, gravou seis álbuns: Sem Pensar No Amanhã (2021), Saudade (2021), Senhora Estrada (2021, que lhe valeu um Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Música de Raiz em Língua Portuguesa”), Alceu Valença e Paulo Rafael (2022, este gravado com o guitarrista Paulo Rafael, companheiro de longa data na banda de Alceu, que morreu no dia 23 de Agosto do 2022, vítima de cancro), Valencianas II (2022, gravado ao vivo em Portugal) e Meu Querido São João (2023, gravado ao vivo no Brasil).
O registo em Portugal foi feito no Porto, recorda Alceu: “Foi maravilhoso fazer esse concerto lá na Casa da Música, ficou muito bem gravado. E fiz também esse show gravado ao vivo lá no Brasil [Meu Querido São João]. No Brasil está havendo uma quantidade enorme de festivais, uma coisa inacreditável. Só no Rio de Janeiro, deve ter uns 15 festivais por ano. E está sendo muito bom, essa coisa de palco e plateia em tudo o que é canto, do Piauí a Pernambuco, da Bahia ao Rio Grande do Sul, é uma loucura!”
O espectáculo Alceu Dispor começou a rodar pelo Brasil e Alceu decidiu trazê-lo até à Europa. No dia 21 esteve em Amesterdão, seguindo-se Berlim, Madrid, Barcelona, Palma de Maiorca e Portugal. Depois, tem ainda datas marcadas em Paris (no Trianon) e Londres (Electric Brixton).
Apesar do título sugerir uma disposição total do artista perante o público, a verdade é que Alceu Valença procurou criar, previamente, um alinhamento lógico para as canções: “Embolada do tempo, Estação da luz, talvez tenha também o Meu querido São João… Há determinadas músicas que tenho de cantar, como Belle de jour, Girassol e também Anunciação ou Flor de tangerina. Mas, na minha onda, cada música tem de ter uma relação com a outra. Por exemplo: tem uma hora em que eu canto uma música de Luiz Gonzaga; e depois canto Jackson do Pandeiro, uma canção minha que ele cantou comigo. Depois vêm flores e Verão, com Estação da luz, a seguir Girassol e Flor de tangerina. E assim vou fazendo um caminho meio teatral, para mim.”
A temática não pára por aqui: “Tem um momento que eu vou falar sobre ruas. Canto Solidão, Pelas ruas que andei, Cabelo no pente. E quando uma canção fala de Lua, eu canto outra sobre a Lua. Tudo na minha cabeça tem uma ligação assim, como se fosse o roteiro de um filme.”
Nos seus três concertos em Portugal, com Alceu Dispor, Alceu Valença (voz e guitarras) terá consigo mais seis músicos: Tovinho (teclados), André Julião (sanfona), Zi Ferreira (guitarra), Nando Barreto (baixo), Cassio Cunha (bateria) e Costinha (flauta e saxofone).