Direcção do PAN ratifica acordo na Madeira e André Silva diz-se “envergonhado”
Os críticos internos de Inês Sousa Real consideram que o acordo viola os estatutos do PAN porque não foi aprovado pela direcção nacional antes de ser assinado. André Silva fala em “fraude política”.
Apesar das críticas dos opositores internos de Inês Sousa Real, a direcção nacional do PAN aprovou esta quarta-feira à noite, "por uma ampla maioria", a ratificação do acordo de incidência parlamentar com o PSD na Madeira que vai permitir à coligação entre os sociais-democratas e o CDS governar na região.
Numa nota enviada à comunicação social, o partido considera que este acordo "é uma oportunidade histórica para introduzir as causas e valores do partido na governação regional" de forma "a melhorar a qualidade de vida das pessoas" e a garantir que "a protecção animal seja uma realidade a protecção ambiental não seja apenas um agitar de bandeira".
O PAN assegura ainda "que irá acompanhar de perto o desenvolvimento deste acordo e garantir que ele reflicta os interesses e preocupações das causas" do partido, defendendo que este entendimento "não é dar carta-branca" ao PSD ou ao líder dos sociais-democratas na Madeira, Miguel Albuquerque, "mas antes defender o cumprimento das propostas que foram apresentadas durante a campanha eleitoral".
Na nota, o partido de Inês de Sousa Real elenca algumas destas propostas: a "regulamentação do turismo e implementação da taxa turística, o passe saúde para os porto-santenses, vacinas gratuitas para os animais, o apoio à esterilização de animais, a actualização dos apoios às rendas de casas ou a protecção da laurissilva, entre outros".
O partido defende também que "este acordo demonstra um enorme sentido de responsabilidade para garantir aos e às madeirenses e porto-santenses que confiaram o seu voto no PAN que irá trabalhar afincadamente para levar a cabo o que propôs na campanha eleitoral".
"O PAN assume uma forma de estar na política responsável, concretizando uma nova etapa na política regional, com determinação para fazer a diferença", afirma o partido.
A ratificação do acordo pela direcção nacional ocorreu já depois de o mesmo ter sido assinado a nível regional pela deputada eleita do PAN na Madeira, Mónica Freitas, o que motivou críticas de sete membros da direcção nacional que fazem parte da corrente "Mais PAN, Agir para Renovar" (que se candidatou contra Sousa Real no último congresso). O PÚBLICO sabe que a maioria destes membros votou contra o acordo na reunião da direcção desta quarta-feira.
Além de se oporem ao conteúdo do acordo, que consideram "limitado" e "impreciso", os dirigentes argumentam que o entendimento foi "cozinhado à porta fechada" e que viola os estatutos porque a direcção nacional não foi convocada para "discutir e deliberar sobre o acordo". Também o porta-voz do PAN-Madeira, Joaquim Sousa, que foi substituído por Mónica Freitas como cabeça de lista, acusou esta quarta-feira o acordo de ser "ilegal" pela mesma razão.
Em causa está o facto de os estatutos aprovados no congresso de Maio deste ano estabelecerem que cabe à comissão política nacional "aprovar coligações ou acordos políticos, pré ou pós-eleitorais, em todo o território nacional, incluindo as coligações no âmbito de eleições nas regiões autónomas e de eleições europeias".
O PAN defendeu em resposta oficial que o acordo "resultou do trabalho conjunto" dos partidos e que seria ratificado pela direcção nacional e Mónica Freitas sustentou que tem "toda a legitimidade" para assinar o acordo como deputada eleita pelo PAN-Madeira.
André Silva "envergonhado"
Quem fez questão de considerar que PAN acaba de cometer um “enorme erro político”, ao assinar um acordo na Madeira foi André Silva, ex-líder do partido. “O PAN acaba de cometer um erro político enorme e sinto-me profundamente envergonhado”, disse no programa Café Duplo, na TSF, em que participa regularmente.
O primeiro deputado do PAN falou em “fraude política” e acusou os partido de “defraudar os que votaram em defesa do Ambiente e dos animais” . “O PAN deu a Miguel Albuquerque o que os madeirenses não quiseram dar: a perpetuação do regime que gere a região de forma autoritária e sem prestação de contas. Em menos de 24 horas o PAN assume uma autêntica fraude política, porquanto tem propostas e ideais antagónicos aos que governam a Madeira e fez toda uma campanha de oposição às práticas do regime para de seguida garantir nada menos do que quatro anos de estabilidade”, acrescentou.