Taiwan exibe o seu primeiro submarino militar fabricado localmente
Governo da ilha reivindicada pela China celebra feito “histórico” e descreve submarino como “dissuasor estratégico” contra as ameaças chinesas. Pequim diz que nada “pode travar a reunificação”.
As autoridades políticas e militares de Taiwan revelaram esta quinta-feira o primeiro submarino militar fabricado localmente. Numa cerimónia com grande pompa, na cidade portuária de Kaohsiung, no Sul da ilha reivindicada pelo Governo chinês como uma província da República Popular da China, a Presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, celebrou um feito “impossível”, num dia que, garantiu, “a História irá recordar para sempre”.
“No passado, um submarino desenvolvido nacionalmente era considerado uma tarefa impossível, mas, hoje, encontra-se diante dos vossos olhos um submarino desenhado e produzido pela população do nosso país”, afirmou Tsai, ao lado do Narval (como o nome do animal marinho que também é conhecido por “unicórnio do mar”), um submarino decorado com as cores da bandeira taiwanesa, azul, vermelho e branco.
Sublinhando o contributo do novo activo militar para o reforço das capacidades da Marinha no campo da “guerra assimétrica”, a Presidente situou esta conquista no contexto do aumento da tensão no estreito de Taiwan e do crescimento da ameaça chinesa.
“Mesmo que haja riscos – e não importa quantos desafios possam existir –, Taiwan tem de dar este passo e permitir que a sua política de defesa nacional auto-suficiente cresça e floresça pela nossa terra”, disse Tsai, citada pela Reuters.
Totalmente operacional a partir de 2025, o Narval foi construído pela empresa taiwanesa CSBC Corp. Com componentes de pelo menos seis países e 40% de materiais e tecnologia de fabrico taiwanês, teve um custo de 49,36 mil milhões de novos dólares taiwaneses (cerca de 1,45 mil milhões de euros). Possui um sistema de combate da Lockheed Martin e torpedos da Mark 48, duas empresas de produção de armamento norte-americanas.
O objectivo do Ministério da Defesa de Taiwan é ter pelo menos dois submarinos deste modelo em actividade até 2027, que se vão somar aos dois actuais submarinos detidos pela ilha, adquiridos aos Países Baixos nos anos 1980.
Segundo o almirante Huang Shu-kuang, responsável pelo programa de construção de submarinos, o Narval é um “dissuasor estratégico” que terá como grande missão garantir que Taiwan tem capacidade operativa para responder e resistir a um hipotético bloqueio naval chinês à ilha.
Na mesma linha, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Joseph Wu, disse que os exercícios militares navais, aéreos e marítimos que o Exército da Libertação do Povo Chinês (ELP) tem vindo a realizar, com cada vez mais frequência, em redor de Taiwan, justificam o reforço dos meios de defesa e segurança do território.
“Sou um grande defensor da aquisição de submarinos por parte de Taiwan, porque isso é necessário para evitar que haja uma guerra”, defendeu o chefe da diplomacia taiwanesa.
Com mais de 20 milhões de habitantes, Taiwan é governada de forma autónoma desde 1949, depois de o nacionalista Chiang Kaishek ter fugido para a ilha e estabelecido um governo no exílio, após ter sido derrotado pelas forças comunistas de Mao Tsetung.
Nos últimos anos, Xi Jinping e o Partido Comunista Chinês (PCC) têm insistido na missão “nacional” da “reunificação pacífica” entre a China continental e Taiwan, sem renunciarem, porém, ao “uso da força”.
A resposta do Governo chinês à exibição do submarino taiwanês afinou, precisamente, por esse diapasão. Wu Qian, porta-voz do Ministério da Defesa da China, garantiu que “nenhuma quantidade de armas” que o Partido Democrata Progressista (DPP) – no poder em Taiwan – “comprar ou produzir pode travar a reunificação com a pátria”.
“E falar sobre [a utilização deste submarino para] evitar que o ELP entre no oceano Pacífico é um disparate idiota”, zombou, citado pela BBC.
Já o Global Times, jornal do PCC em língua inglesa, assegurou que as Forças Armadas chinesas “já construíram uma rede multidimensional anti-submarinos em redor de toda a ilha” de Taiwan e disse que as autoridades políticas do território estão a “sonhar acordadas”.