Parlamento realizou debate sobre habitação que acabou na sede do PCP em Aveiro

Comunistas dizem que Governo foi obrigado a tomar medidas, mas ainda são insuficientes, e apelam à participação na manifestação de sábado.

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Comunistas dizem que as medidas de indexação do crédito à habitação e adiamento dos juros são insuficientes Nuno Ferreira Santos
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O PCP queria falar sobre habitação, a falta de oferta pública e de medidas políticas, mas acabou a ser acusado de ceder à especulação imobiliária por causa de um processo, que se arrasta há vários anos, de demolição da sua sede em Aveiro e construção de um bloco de apartamentos para venda.

No Parlamento, o deputado Bruno Dias lamentou o "drama" em que se vêem os milhares de pessoas que "não têm opções" de habitação e apelidou o pacote Mais Habitação de "mais transferências" – para a banca, para os fundos imobiliários – para criticar o Governo. Que deixa que se mantenha a "brutal especulação", as "benesses dos fundos imobiliários", a acumulação de lucros pela banca (são 11 milhões de euros por dia, vincou o comunista), um "mercado de arrendamento completamente oposto às necessidades da população".

Para o deputado comunista, as medidas anunciadas pelo Governo na passada semana, que limitam a 70% a indexação dos juros à Euribor e aumentam a bonificação do crédito, são "insuficientes" e "passam ao lado das questões centrais".

Bruno Dias defendeu as medidas que o PCP tem apresentado, como o limite do aumento das rendas, a suspensão da amortização do capital por dois anos no crédito à habitação e a limitação dos juros à taxa que os bancos também pagam, assim como a eliminação dos benefícios fiscais aos fundos imobiliários e aos vistos gold. A que se soma o investimento na construção de habitação pública e reconversão de imóveis públicos. O deputado apelou ainda à participação nas manifestações em defesa da habitação agendadas para sábado.

O liberal Carlos Guimarães Pinto disse partilhar das preocupações comunistas sobre a falta de alojamento para estudantes e jovens, para depois passar ao ataque ao PCP. Falou da sede do partido em Aveiro, um edifício da década de 1930, que o partido ocupou na década de 70, contestando depois a sua demolição e posterior construção de um prédio de cinco andares pelo anterior proprietário, para depois acabar por comprá-lo e fazer o seu próprio projecto imobiliário: já demoliu a vivenda e irá construir ali um edifício de sete andares. E que o deputado liberal diz que terá apartamentos para vender por meio milhão de euros.

Carlos Guimarães Pinto acusou o PCP de fazer mais como especulador imobiliário do que como partido político em prol da habitação e recorreu a trocadilhos para ironizar sobre a ideologia comunista trocada pelo Idealista (o nome de um portal online de imobiliário), sobre o passado de inspiração em Marx e um presente inspirado na Remax. "Dêem os edifícios devolutos do Estado ao PCP e o que fez em Aveiro será replicado pelo país", rentabilizando os imóveis, apelou o liberal.

Bruno Dias contestou as piadas e acusou Carlos Guimarães Pinto de "mentir de forma descarada".

O deputado do Chega Pedro Pessanha lembrou que o PCP fez parte da "geringonça" mas não fez nada em prol da habitação, apontando também problemas habitacionais em municípios geridos pela CDU, como Seixal e Loures. A social-democrata Márcia Passos seguiu a mesma linha de argumentação e disse que o PCP também "não acautelou qualquer programa estrutural na habitação", apontando algumas medidas do PSD que tiveram voto contra dos comunistas, nomeadamente nas moratórias de crédito à habitação.

O mesmo fez o deputado socialista Hugo Carvalho sobre algumas propostas do PS em que o PCP não alinhou, como a redução da taxa liberatória para os proprietários que coloquem os imóveis no mercado de arrendamento ou a redução dos benefícios para o investimento estrangeiro.

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