Coreia do Norte anuncia expulsão de soldado americano, que já está sob custódia dos EUA
A libertação de Travis King seguiu-se a meses de intensa diplomacia, disseram as autoridades norte-americanas, garantindo que não foram feitas quaisquer concessões a Pyongyang.
O soldado norte-americano que entrou na Coreia do Norte em meados de Julho, através da fronteira com a Coreia do Sul, já está sob custódia dos Estados Unidos, depois de a agência noticiosa estatal norte-coreana, KCNA, ter anunciado esta quarta-feira a sua expulsão do país, sem oferecer, no entanto, quaisquer pormenores sobre a data ou os termos da mesma.
As autoridades norte-americanas, citando representantes diplomáticos dos EUA que viram King quando estava a ser transferido da China, vizinha e aliada da Coreia do Norte, disseram que o militar parecia estar de boa saúde e “muito feliz” por estar a caminho de casa.
A sua libertação seguiu-se a meses de intensa diplomacia, disseram as autoridades norte-americanas, garantindo que não foram feitas quaisquer concessões a Pyongyang para que King fosse libertado, apesar de persistirem muitas dúvidas em relação aos bastidores da operação, que aconteceu num período de tempo bastante mais reduzido do que o habitual, quando estão em causa soldados norte-americanos que estavam destacados na Coreia do Sul e que desertaram para a Coreia do Norte.
“Este incidente, na nossa opinião, demonstra que manter as linhas de comunicação abertas, mesmo quando os laços são tensos, é realmente importante e pode produzir resultados”, disse um alto funcionário da administração Biden.
Recuperando aquilo que já tinha dito em Agosto, sobre a investigação à entrada de King na Coreia do Norte, o regime de Kim Jong-un volta a aproveitar o anúncio para criticar e lançar denúncias sobre os EUA e as suas Forças Armadas.
“De acordo com a investigação realizada por um órgão relevante da RPDC [República Popular Democrática da Coreia], Travis King confessou que se intrometeu ilegalmente no território da RPDC devido ao mal-estar que sentia com o tratamento desumano e com a descriminação racial dentro do Exército dos EUA e por estar desiludido com a sociedade desigual dos EUA”, escreve a KCNA.
“O órgão relevante da RPDC decidiu expulsar Travis King (…) ao abrigo da lei da república”, conclui, sem especificar qual a legislação em causa.
Citado pela Reuters, Jonathan Franks, porta-voz da família de King, limitou-se a dizer: “Não se espera um comentário substantivo [à ordem de expulsão]. Precisamos de tempo.”
Travis King, de 23 anos, estava destacado na Coreia do Sul e foi detido em Outubro do ano passado pelas autoridades sul-coreanas por suspeitas de envolvimento numa cena de violência numa discoteca de Seul e por ter pontapeado um carro da polícia. Condenado em Fevereiro a uma multa, falhou o prazo do pagamento e, por isso, esteve detido entre Maio e Julho.
A 18 de Julho, um dia depois de não ter comparecido no aeroporto de Incheon, na capital da Coreia do Sul, para ingressar num avião com destino ao Texas, nos EUA, onde iria ser alvo de um inquérito disciplinar por parte do Exército, King juntou-se a um grupo de turistas que visitava a Zona Desmilitarizada (DMZ) – a famosa linha de demarcação militar ao longo da fronteira entre as duas Coreias – e entrou na Coreia do Norte sem ninguém reparar.
Apesar de terem assinado um acordo de armistício em 1953, que suspendeu as hostilidades da Guerra da Coreia (1950-1953), Pyongyang e Seul nunca chegaram a acordo para um acordo de paz, e, por isso, continuam tecnicamente em guerra.
Setenta anos depois, entre denúncias de violação de direitos humanos, de repressão e de desenvolvimento de um vasto arsenal de guerra à custa do sacrifício das populações locais, continua a saber-se muito pouco sobre aquilo que se passa a norte do paralelo 38, e, nomeadamente, sobre as pessoas, como King, que o cruzam e que são apanhados pelas forças do regime.