Alguém viu os rés-do-chão que o Oitoo transformou em habitações e gostou tanto que quis um igual. Em 2021, o colectivo de arquitectura explicava ao P3 como tinha identificado 173 rés-do-chão vazios, o que equivalia a sensivelmente 20 mil metros quadrados inutilizados, que podiam ser casa para cerca de 1200 pessoas. Nessa altura, os locais sinalizados foram na freguesia de Paranhos, no Porto, onde está sediado o escritório. Agora, dois anos depois, (re)nasce uma loja vazia na zona de Serralves, agora transformada em habitação.

"A estrutura já lá está. O edifício já existe, já há electricidade, rede de esgotos, águas, os metros quadrados vazios", começa por explicar o arquitecto Nuno Baptista Rodrigues. Depois, é preciso pensar como é que se cria "privacidade, como é que se tira proveito do quintal, porque normalmente estes espaços têm uma função logística" e não habitacional.

Neste rés-do-chão em Serralves, os arquitectos mantiveram o portão de uma antiga garagem e puseram-lhe uma malha metálica. "É um espaço onde o ar entra, onde se pode deixar a bicicleta", por exemplo. Depois disso há uma nova fachada que faz a "transição entre o domínio privado e o público". É atrás dessa nova fachada, feita em caixilharia artesanal ("sim, o trabalho artesanal ainda existe!"), que está "uma sala, um grande terraço coberto, um átrio que pode ser uma biblioteca ou um espaço de trabalho e dois quartos".

Colorido em tons neutros e pastel, esta casa é mais um passo na "reactivação da cidade" que os arquitectos do colectivo disseram, em 2021, querer ajudar a fazer. "Uma porta fechada não cria relação nenhuma", apontaram. Mas um portão metálico mete os olhos na cidade (e deixa-se ser visto).